quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Bolso ordinário!

Ele não só retira do bolso
como escancara
esse preconceito ordinário!

ele não esconde
sua face mais nojenta
não tem tempo
nem horário!

não mede suas palavras
não se cansa
de ser sempre otário!

é um ser desprezível
por ser o que é
por reivindicar o que não mais tem lugar no páreo

tem no Brasil lugar de poder no Brasil
ah! pobre Brasil tão mercenário!

mas não representa a mim
nem os meus solidários

não fala nada com nada
seu palavrear já é carta fora do baralho!

sai fora dessa cena
ladrão, sem noção e salafrário!



segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

SP

se de sigla pode ser
o que dizer de SP?

CIDADE!
Monstro
grande
ralação total!

ônibus e metrô lotado!

nunca se chega no final!

São paulo não para!

e parado está só quem olha!

a cidade corre,

busca
sofre,

mas não se cansa

transformada se apresenta!

Existe vida nesse absurdo real!

Porque existe encanto,

ainda que nada seja mais igual!






quarta-feira, 5 de novembro de 2014

A cidade não para*

um sinal e tudo para, para nada. Ela atravessou e atropelada foi! Ele gentilmente a socorreu e deu-se o evento citadino!
Engraçado, mas o dia a dia da cidade não para, mas para! Ela deitada no chão, rodeada de curiosos, rodeada também de piedosos, e generosos. E rodeada depois de muitos loucos, moradores de rua, não menos generosos, não menos cuidadosos, cada um em sua loucura, e fragilidade mas com potência para compartilhar do sofrimento dela...
Idosa ela não podia ver muito bem o que a rodeava, o joelho machucado, a cabeça quase debaixo do carro(o que fazia com que transeuntes olhassem com cara feia e julgadora para o motorista!)...
O mesmo permanecia pacientemente atento, qualquer olhar, qualquer ação da senhora ele atendia com carinho e preocupação.
Ele nunca a julgava, só lamentava o fato de ter acontecido o acidente...
vimos ela havia atravessado fora da faixa de pedestre...

mas ninguém estava ali para julgar!
eu mesmo depois de ouvida em casa a explicação do meu irmão já não julgava nem mesmo a demora do atendimento de saúde da cidade!


eu mesmo, sendo testemunha, dava minha pouca e parca contribuição, amenizando conflitos, conversando com os doidos e tentando ver o melhor a fazer...

até que depois de muito tempo dentro da cena dá-se o atendimento...

vai-se desfazendo o grupo, ela atendida, eu seguindo a vida, alguns ainda reclamando da demora, ela segue calada, esperando, assim como a maioria dos idosos, ele pacientemente se queda no local até que seja atendida...

eu sigo feliz com a rua, com o amor, o cuidado que ainda prevalecem nessa selva de pedra!


* sobre aquele acidente ali na Tamoios com Bahia hoje de manhã.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Para uma genealogia da palavra*



E nem se podia dizer
palavra
pois de consciência
que aquilo era
palavra não se tinha

A palavra não se sabia
mas já se sabia ou se ouvia
rio, flor e cotovia

Não tinham nomes
não nomeados
mas de cheiro e cor
já se faziam

não se definia o gosto
mas era bom
comer banana
ou peixe todo dia

O dia amanhecia
e anoitecia
mas que era assim
que se chamaria, não se inferia

à noite
não se dava conceito
mas já de muito tempo
já existia
era nela que
pato, onça, cavalo
homem e mulher
dormia

A chuva
refrescava da ensolarada
mas que era isso
ninguém se valia

a semente caía
da boca do pássaro
e daí virava:
arvore e flor
e fruto
e outra de novo
mas mesmo assim
não se sentia

e depois foi
palavra que
veio dando nome
e verbalizando
e fazendo
tudo o que existia,
mas já existia!

Mas agora tudo ganha um lugar
e vai no papel ficando
porque História
é galhardia!

O que foi
depois nem se ouvia!

E foi surgindo
machado, foice, pedra lascada,
e o trabalho ia forjando valentia!

E levantou a coluna
e foi andando
de dois pés
e foi-se fazendo
voz
pra garantia

E passou a
mudar as coisas
e foi conceituando tudo
e pra tudo uma serventia

E tirou coisa do lugar
e foi fazendo
mais coisa
de quem nem precisaria

e foi achando
mais necessário
e chegou-se à mais-valia!

E explorados
e alienados
enxergar
ninguém mais podia

E era por música,
propaganda
que se ia
propagando
tudo o que fosse
compra podia

E achou que
representado
ele podia
no poder democracia

e foi-se perdendo
no ter
e deixou de ser
quase mais não se fazia

o material que
transforma no processo
se perdia...

e teve que
achar jeito
de mudar
assim se organizaria

e pretendeu
fazer outro poder
e de forma que
participaria

porque já de
não ser
não gostava
e viu que de outro
modo seria

está praticando até hoje
porque do pesadelo
acordou o dia
em que acreditou
que
o mundo todo Revolucionaria!


* postada em 2011 no blog gentilmente cedido por Marcelo Campello



terça-feira, 21 de outubro de 2014

Olhos de rua*



Ele não me olha, exatamente porque não para de olhar
eu olho pra ele
exatamente
porque sinto que quero
que preciso olhar

ele me sufoca
porque é preciso sufocar!
ele me força a seguir em frente
sim
porque é preciso andar!

ele me brota de dentro
precisamente
porque é preciso brotar

nascer novas lutas
fortalecer as velhas
antimanicomias
antiprisionais
antiproibicionistas!

é preciso gritar!

ele tem olhos de usuário de psicofármacos!
exatamente
porque não ainda deles pode abdicar!

ou teria olhos de outras substâncias?
que só a rua lhe promete
não pode evitar?



































* aquele olhar do morador de rua ali no Viaduto Santa Tereza, agora...



quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Eu não vou esquecer


                        Nunca vou esquecer do meu pai passando na sala e me vendo assistir Linha de Montagem e dizer:” essa é a greve dos metalúrgicos né?” eu:” sim Pai!” Ele: “eu fiz também”
                      Não vou esquecer do Lula nesse mesmo filme dizendo: “O que nós trabalhadores precisamos fazer é mudar a relação capital x trabalho e isso só faremos com organização política!” Mas também não esqueço do Lula que disse:” eu não sabia!” Também nunca vou esquecer do Governo Tucano em MG, nem das várias passeatas dos professores do nosso Estado em 2011 e 2012 e dos meus colegas de categoria perguntando:’ em qual escola cê trabalha?” Eu: “nenhuma” Eles:” uai? Mas você tá aqui por quê?” Eu: “porque eu sou professora também!” Nem vou esquecer da Assembleia Legislativa de MG lotada de milhares deles quando a presidente do Sind Ute depois de um cenário radicalizado de greve no Estado, decidem pelo fim da greve e Anastasia continua sem pagar o piso salarial da categoria mesmo com decisão do STF! Não eu não vou esquecer!
                    Nunca vou esquecer que eu saí da Beira Linha “despejada” no fim da gestão Patrus Ananias para a urbanização conservadora na cidade de BH que depois culminaria no programa Vila Viva nos anos 2000( Viva?), política embarcada por PSDB, parte do PT e o escroto PSB( confere produção?).
                 Não esquecerei das ocupações urbanas que fiz, nem das do MST. Não vou esquecer que haviam petistas fervorosos nesse meio e nunca nenhum deles me fez crer, nem quiseram me convencer de nada acerca do partido. Não vou esquecer de Eldorado dos Carajás! NUNCA! É questão de ordem pra mim( mesmo agora desorganizada!), não esquecerei quem era o governador de lá, nem o presidente da república!
                Não quero esquecer quem era o presidente do Brasil quando as tropas do exército entraram na Rocinha, no Alemão e declararam guerra contra a pobreza! E declararam guerra ao país, à população!
                Nem de longe vou me esquecer do presidente que entrou no Aglomerado da Serra e disse com as obras do PAC:” vamos transformar esse lugar num lugar digno!” Sabia mesmo ele o que era ou é dignidade?
              Eu me nego a esquecer que faz quase nove anos que milito, com certeza desorganizadamente na maior e mais bonita luta de MG, uma luta que faz parte de um processo encabeçado por militantes e não militantes desse partido estranho, limitado, com potência, mas cheio de contradições que governa o Brasil desde 2003. A luta antimanicomial e suas projeções no nosso Estado só foi possível pela rua repleta de loucos, de vozes e delírios. Ela também foi possível dentro de setores do Estado, com vitórias garantidas por leis referendadas. Assim eu não posso me esquecer que há um lado importante da moeda nisso tudo e não posso me esquecer que ganhando o tucanato o que serão dos loucos, dos usuários de drogas, dos moradores de rua da minha cidade? De MG? Do Brasil? Pra eles só existem a privação e liberdade, a proibição do uso de drogas e as mentiras das comunidades terapêuticas. Embora é importante não esquecer e importante lembrar que há um vereador do PT em BH que foi homenageado por uma dessas comunidades que em sua maioria ganham dinheiro do Estado para violar direitos de usuários de drogas!
           Nunca posso esquecer que muitas garantias sociais, muitos direitos historicamente defendidos nas ruas desse país foram em parte reforçados por uma bancada desse partido que governa o Brasil. Não posso esquecer de Eduardo Suplicy( a esposa eu queria esquecer...mas...) nem de vários outros que prefiro não citar para não cair nas contradições. Não posso esquecer que muita gente passou a comer melhor, ir à escola, participar de um setor seleto da sociedade brasileira, como diria Guilherme Portugal em seminário na Escola Dom Helder Câmara:” vocês fazem parte desses poucos % dos brasileiros que estão nas Universidades!”
           Entretanto minha memória que me maltrata, mas me faz bem também (nem tudo é perfeito...) não me deixa esquecer do DOC Garapa de José Padilha! Importante ver que no Brasil muita gente nem chegou à modernidade quanto mais à pós modernidade( não é Zi Reis?)
          Assim é preciso não esquecer, o que foi feito, o que NÓS fazemos! Fazer é muito mais que apertar botões, se cada um sabe o que fazer com os próprios dedos, espero que não se deixem levar pelo gozo pessoal, ou pelo recalque! A história pede-nos mais que isso!
          Não tenho respostas, graças a deus( deus?) eu tenho perguntas e minha memória!

“ A memória é uma ilha de edição!”



                                     








sexta-feira, 10 de outubro de 2014

significado

a questão é de significante
e não de significado
mas eu sou ser errante
e não posso fazer muito mais
se não entendeste o recado!

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Risco

se sua vida não for um risco

não se arrisque

mas não viva

porque uma vida sem risco

é como um pássaro que não voa

um rio que não corre

um lábio que não beija

um dor que não demore

Um risco no arriscar-se
um decolar
um enamore

se a vida é um corre

é melhor arriscar

senão
ela te engole!

sábado, 4 de outubro de 2014

Pra quê um viaduto?

Quem quer um viaduto?
pra quê um duto
saindo água
saindo esgoto
cheirando à carniça
cheirando a gente pobre?

Pra quê
um espaço
pra quê uma roda de conversa
a política é perversa
resolve no decreto
se faz na imposição

o que você quer com esse lugar sujo?
o que pretende
nesse absurdo?

a gente quer conversa
a gente tem pergunta!

não nos comprometemos com menos
o nosso mais é o reverso!




               

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Chamam-se

Chamam-se
istas

pois não podem mais ser nada

tentam tanto nome

que não agem

só falazada!

Chama-se "política"
entre aspas colocada!

pra quê
pra ser o quê?

se em nada mais é transformada?

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sobre espíritos raros

chamam de evoluídos
espíritos raros

chamam de gente mais que gente
não se mede pelo faro

chame de ser humano menos
que mais vaidade

o que se vê também nessa época, claro!

chame os poetas
denunciem fatos

o que se pretende exato!




                                       

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Conta

Conto
não conto
pra quê
se não dão respostas para o que conto
para minhas minhas contas?




                     

Arte?

Melhora na produção
piora na qualidade!
e ainda dizem
que fazem arte!
aff!!!!



                       

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Sorrateira

Devagar e escondida
como um poema absurdo
ou um pixo na madrugada
ela te entende
mesmo sem entender

Busca uma saída
sempre
mesmo
sem ser possível

faz a vida acontecer

sorrateira
ela te seduz
com um cuidado
que nem se pode compreender

busca uma coragem
no meio da violência
que a delicadeza
é que deixa aparecer!



                                       






segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Palavra precária

Poeta escreve
porque não adianta falar
Poeta canta
porque ninguém o entende
nem o consegue escutar
poeta é figura precária
Poesia é letra morta
é risco inútil
que, se não sai,
mata
fere
é por dentro que a palavra
se forja
mas quando bate na
consciência-porta
aberta fica
e não pode mais fechar.



sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Pelo enfraquecimento e fim do Estado e suas instituições



               
                            Pedir o fortalecimento de qualquer setor inventado pelo Estado( Estado Nacional, Estado-Nação, Estado Burguês, Estado Capitalista) essa instituição que totaliza pensamentos e não pode garantir as condições de direitos fundamentais para todos é pedir que continuemos no mesmo caos e luta entre os que comandam a ordem e os que sofrem as consequências de sua repressão.
                         O Estado é uma invenção para garantia do poder dos que o gerem, em QUALQUER modo de produção!
                       Com este posicionamento definido entremos apenas num dos debates que vem cercando BH, numa das lutas que são importantíssimas, que são as que tratam daqueles pelos quais governos, entidades, instituições, muitas vezes só querem assistir no seu  modelo caritativo ou punitivo. Há uma força em Belo Horizonte, que, ora envolvida em fóruns, ora se colocando em coletivos, ora despertando saberes nas paredes, e por fim encarcerados. Isso! Encarcerados! Embora o Estado goste de dizer unidade socioeducativa, alojamento, medida de internação, sabe-se que os adolescentes no Brasil e também em BH, estão em prisões, em celas e presos! Não podemos negar essa realidade. Estaria eu aqui então dizendo que não há como fazer nada? O negócio é quebrar tudo? Talvez! É preciso não só destruir as cadeias, é preciso destruir em nós o pensamento prisional!( uma ótima dica de filme:” O segredo dos seus olhos, filme argentino que ajuda a pensar muito sobre isso que incutiram em nossa cabeça, essa mania de prender gente!)
                    É a ideologia que construiu o Estado que também conseguiu “provar” por  A + B que é preciso prender os indesejáveis, aqueles que não cumpriram com as regras que determinado setor das classe disse que era necessário cumprir.
                 Seguindo nesse raciocínio, como vamos fortalecer o Estado? Como vamos fortalecer o sistema socioeducativo? Devemos, e isso sempre foi condição fundamental para realização de qualquer trabalho dentro do sistema, respeitar os trabalhadores que lá estão, respeitar o conjunto de ações que muitos( muitos sim!, só quem não entrou não sabe!) propõe para que a caminhada na medida seja possível, apesar de ser sempre dura, pois existe uma maioria que compartilha com pensamentos atrasados como redução da maioridade penal e penas mais duras. Como se já não fossem duras todas as já existentes até mesmo fora da cadeia!
             Vamos então tentar entender como as coisas acontecem na real e o que fazer diante da barbárie. Não há receitas, não há manuais. Só ouvidos atentos para quando se chega dentro da parada ser possível pensar junto alguma intervenção. A ideia aqui seria ir minando a parada até ela deixar de existir, mas por dentro? Não se sabe! Por fora? Quem está disposto? Essa ideia de que o pensamento social é homogêneo e que TODA a sociedade quer mesmo é matar bandido pode ser perigosa para quem quer acabar com essa punição desenfreada e que não resolve em NADA nossa vida cotidiana. Ninguém aqui pede o fim da responsabilização de ninguém, pedimos o fim das torturas, o fim das mortes, o fim de um Estado presente somente para garantir a ordem daqueles que o querem vivo sempre! Talvez as únicas saídas para acabar mesmo com o Estado e suas instituições totalizantes seja ouvindo no dia a dia e tentando construir junto o que queremos para o futuro. O futuro está morrendo! A juventude está sendo dizimada, e defenderemos mais Estado para continuar reprimindo-a? Não! Não contem comigo para isso!
            É preciso ser corajoso para tentar um mundo que não tem nome! É preciso saltar no abismo, mesmo sabendo que pode ser o seu fim(o meu fim, o fim do nosso eu!), mas é bonito também ir construindo coletivamente uma forma de mudarmos essa nossa sede de vingança, essa nossa vontade monstruosa de querer destruir o outro pelo que nós não tivemos coragem de fazer. O crime só nos mostra o que nós poderíamos ser capazes de fazer e por isso nos amedronta e preferimos separar do convívio social. Só ouvindo o que se vive na realidade é possível construir caminhos menos violentos e mais possíveis. Afinal não foi em Vênus que os crimes coram cometidos, assim somos nós os responsáveis por lidar com todos, TODOS eles!

Pelo fim de manicômios, prisões, unidades socioeducativas, e TODA forma de instituição total!















quarta-feira, 10 de setembro de 2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Máquina

Quando te acercas do conhecimento
sobre a Máquina ela recua
Às vezes te expulsa, outras negocia
A Máquina te teme!
mas ela te tenta!

A tentativa da máquina,
alcançar-te
tomar-te por inteiro
para não toma-la você!

Aproxima-te da Máquina e a mesma te abocanha
se de forma sutil
se de forma tacanha!

A Máquina te proporciona prazeres
vidas diversas
no incansável paraíso da mentira

você constrói filhotes da Grande Máquina
e a mesma te descarta!

Vives pela Máquina e a Máquina
com morte te surpreende!

É preciso não vacilar diante da Grande Máquina
e nos seus entremeios
derrubar a mesma
para outra nomenclatura
sem nome
alcançar

para outro possível
impossibilitado por ela
legitimar

Assim quebras a Grande Máquina
para nada,
e sem medo,
colocar em seu lugar!




                                          



terça-feira, 2 de setembro de 2014

Do que creio



Não acredito em baquetas
nas mãos de meninos de gueto
para aumentar as estatísticas da sua campanha eleitoral

Acredito em tambores
soando com garra
fazendo na marra
bolero-ravel-maracatu-tonal

Não me limito
às vossas ongs
associações
crentes beatas
nesse café matinal

Acredito em fuzis
de palavras
de balas forjadas
nos braços do nosso mal

Não acredito
em tua política
tua farsa
tua mística
é nossa a crítica
que vence o banal

Acredito nas vozes surdas
em bocas mudas
em tom
que nunca
verás igual.







terça-feira, 26 de agosto de 2014

vira o que virá

porque essa tristeza toda é pela roubada mais-valia
essa incerteza toda é a vida vadia
essa indiferença toda
da capitalista covardia

essa frase solta
vira poesia

essa coragem absurda
às vezes
falsa valentia

essa mentira
toda
para turva hipocrisia

esse remédio todo
para uma noite garantia?

esse mistério todo
para ciúme-amor vida doentia?

esse silêncio todo
pra insana rebeldia

esse grito todo
para voz que por um tempo se perdia!




                                               





domingo, 24 de agosto de 2014

Reduzindo danos e aumentando os ganhos

          O título parece caminhar para o capitalismo no sentido do ganho, mas queremos ganhar sim, ganhar vida, ganhar sonhos, ganhar alegrias...
          A apresentação do Skank( o mais engraçado o nome da banda se refere à uma espécie da erva!) colocou na rua um monte de gente branquinha e com roupa quase tudo parecida, e não entendo a vontade ser igual que as pessoas tem...mas sigamos. Entretanto colocou também um monte de morador de rua, com o cheiro da falta de acesso às condições mais fundamentais da vida. Eles ficaram,.pPerto de mim eram três, um deles sabia todas as canções de cor! Um deles tentou chegar mais perto do palco, quase caindo, tremendo, e sob os olhares de nojo das pessoas que o rodeava, cheirava a álcool, e estava mesmo mal, mas sabia que estava participando de uma festa. Só não sei se sabia que a maioria dos que o rodeavam pareciam não querer que ali estivesse. Achei que precisava de um pouco de água, olhei minha garrafa e tinha como quatro dedos, pensei: "é pouco". Assim mesmo toquei nas costas dele e falei:" ou? água cara, toma aí! acho que cê tá precisando!" Ele:" muito obrigado!" Bebeu tudo num gole. Depois disso conseguiu um lugar para se encostar, o gradil que nos separava da mesa de som assistiu dali toda a apresentação. Não sei se o efeito da água pode ter ajudado, não sei se minha vontade de que ele pudesse estar ali também, só sei que ficou.
       O que eu sei é que não havia grades, o que eu sei e que SESIMINAS, SENAI, PBH e Fundação Municipal de Cultura patrocinam o evento, o que sei é que a população de rua em BH não tem seus direitos fundamentais garantidos, as crianças e adolescentes não tem mais o Miguilim, o que sei é que há um bocado de gente no corre para essa situação mudar. Dentro da política algumas delas, fora da política várias delas, algumas dentro e fora, ora como trabalhadores, ora como militantes. Reduzindo os danos, aumentando os ganhos. Nas ofertas possíveis das ruas, na van do consultório de rua, nos ouvidos atentos às demandas, nas rodas do conselho do redondo, naquela loucura que é fazer um pixurrasco e estar à mercê de tudo e fazendo com alegria.
            Nós não abandonamos a rua, nós a queremos sem grades, nós vamos reduzindo os danos na medida do possível e tentando ganhar no meio da desgraça, no meio do caos que tanto nos agradar e nos faz fazer sempre mais perguntas e tentar, se possível encontrar respostas...
            Não fechamos com grades nossos corpos, nossos espaços, acreditamos que é preciso estar diante do monstro que somos nós mesmos e tentar conviver com os fantasmas, ora nos agredindo, ora nos fazendo ver que é mais que privar, é ser...




                                         



domingo, 17 de agosto de 2014

(a) política

tem gente política
apolítica
sem política
ser humano aristotelicamente político?

a política é uma senhora já vivida
ela às vezes agride
outras acalenta

a política convive contigo dentro de casa
nas vasilhas sujas
no café feito com carinho

te persegue nas ruas na delicadeza do convívio
política é a vontade de entender
é escuta mais que fala

essa política com letra minúscula
não por ser menos
mas para ser de todo mundo

política pode ser até verso

pode ter reverso

mas nunca se sabe oriundo

essa politicagem daí
incomoda a gente aqui

porque nós queremos mais rodas
e menos protocolos...






segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Do que falam as paredes!

Plor é explosão!
se vê sempre muito alto,
e dá uma
chapada!
tapa na cara,
frase escancarada,
muro marcado!

Goma é em todo
canto da cidade!
Espalha, no meio da mentira
verdeira humildade.

Dust, mais ocasional,
quase sempre escalada,
é pixo no horizonte vertical!


E, Lora,
nunca li nas paredes
mas se que ensina
numa rede
que mensagem pra ser
tem que ser esgotada
só no saber
da nossa sede.

sábado, 9 de agosto de 2014

Já fui Beira Linha, João de Barro, Lajedo, Borges...

hoje
sou Isidoro, Rosa Leão, Vitória
mesmo no meio das derrotas contra a propriedade
já fui Beira linha
rua h,318
já fui esgoto no quintal de casa
rua sem asfalto
becos
gato de luz
vielas
já fui pastinho, Creche Santos Anjos e Consuelita Cândida
já perdi Pepeus, Junim
já ocupei João de Barro
sem terra também já fui
porque mesmo não sendo eu quis ser
a opção que fiz não era consciente
sempre foi condição!
Já fui lixo
fui corpo morto
sou sempre o menino assassinado
a menina violentada
nunca esqueci de nada
embora a alegria de tentar sobreviver prevaleça

Se retirarem Isidoros
Rosas
Helenas

Sobrarão muitos outros nomes
porque a gente sempre continua sendo
apesar do querer poder
nos esmagando dentro





quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Nosso corre é pelo serto!

Nossa certeza não cabe em sua gramática
nossa língua é em tupi
nossa linhagem guarani
nosso idioma, o de Peri!

Nós morremos em suas mãos
muitas vezes agentes aliciados por vossa intervenção
mas nós sobrevivemos à vossa intimidação

gingamos em cima da opressão
nossa voz não se cala
com suas regras

nossa cor é a mostra
da História
da tragédia

mas nosso canto é de alegria
no meio da loucura
mistura de sons
delírios
negros
pobres
no absurdo do real...





sexta-feira, 1 de agosto de 2014

do que sou

eu me dou aos montes
sacrifico-me à revelia
acredito no submundo
no fundo
na rebeldia

me atormenta a sanidade
a normalidade me angustia

sou de muitas poucas palavras
quando a hipocrisia
os loucos silencia

a loucura é meu conforto
num mundo anestesiado
gosto de enigmas
de muros "sujos" e pintados

minha estética é palavra explicável

e minha vida é junto com o risco!





domingo, 27 de julho de 2014

Poeta?

Poeta de verdade é vagabundo
se esconde no escorro do mundo
dá-se de graça nas palavras

Poeta de verdade não vende sua poesia
mesmo escravo da mais-valia
assume sua missão de liberdade

Poeta?
Artista da palavra
ourives da letra
manda fita na parede
tece a vida
faz uma rede

e sabe de quem, pra quem
foi feita a cidade



sábado, 19 de julho de 2014

Pra quê?

Eu nasci para escrever
na tinta que eu quero ser
não nasci para cantar
pintar quadros
armar concreto

nasci para correr pelo certo
mandar letra
fazer verso

eu vim pra trazer o contrário
desfazer o erário*
e sorrir no reflexo

cheguei pra por fogo
no tempo
e se me perco no vento
o meu som tem seu teto.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Já pensou?

Já pensou?
Um dia, todos os famintos
decidirem matar a própria fome(só arroz com feijão todo dia é fome!)?
Já os pensou saqueando supermercados e galpões de estoque de comida?
Já pensou se quiserem matar a fome de saber?
E atacarem bibliotecas, levarem para as ruas e praças e livros?
Queimarem parte deles para se aquecer do frio
e
com a outra parte aprenderem a ler,
melhor ainda,
argumentar?!?!??!
Já pensou quererem também ocupar os teatros
e dançar o congado,
o coco
e o maracatu?
Imagine-os invadindo salas de cinemas
 e eles, (eles mesmo!!!)
escolhendo os filmes a serem projetados?
Fazerem rodas de conversa dentro dos museus mais importantes
e declamarem suas próprias poesias
nos palcos antes reservados a poucos? Imagina?
Mas imagina?
Eles e elas estão nas ruas fazendo isso!
Tem saraus
tem batalhas de rap
tem poesia
tem teatro
tem marca nos muros e paredes
é isso que incomoda?
Imagina se isso vira moda?
Se isso vira estética?
Se isso vira arte?
O medo é esse?
A ansiedade é essa?
O medo é a moda...

e a moda muda!








você

você é minha beirada
me encosto em suas palavras
você é meu amigo
primo(?)
nada!
esses parentescos são meras invenções
família burguesa nem quero!
você é minha esperança
minha calma
minha fúria!
meus medos da vida
mas minha força escondida!
você é a sinceridade
um posicionamento cortante!
uma pena, corinthiano...
mas massa pensante!
você é meu refúgio
contingente e solidão
é certeza de que viver
tem um sentido
escondido
mas sem ilusão...





quarta-feira, 9 de julho de 2014

sem conforto

e quando estiver muito
confortável
desconfie,
a vida acontece mesmo
é no desconforto!

sexta-feira, 4 de julho de 2014

San Antonio

Me pides que diga algo
de San Antonio
digo: mar
El mar de los pescadores
de los pájaros
de los niños
San Antonio es el cielo
es el sol que se va temprano
pocas palabras San Antonio
solo una más: te amo!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Prezas

Pinceladas de ódio em doçura
na política da "boa" vizinhança
não se faz por candura

Cordialidade misturada a desejo
miséria no meio da fartura
na confusão aproveita-se o ensejo
e esbanja sutura

O que emerge das paredes
é a síntese desorganizada da fissura
Fura-se o ar patrimonial
tinta e traços, uma mistura

O laço que envolve
a sabedoria
do primitivo fazer moderno(moderno?)
fachada
não se atém à beleza civilizada
nem no(do) esquema relaxa







sexta-feira, 20 de junho de 2014

EU

faço versos no escuro do quarto
me amparo em psicanálise sem crise
a psiquiatria também me aborda
sem choros

sou palavra
sou verso
não sei nada de métrica
mas meço minha loucura
pelo tanto de vozes
que acredito me acompanhar

acredito nas visões
acredito nos vivos
acredito na memória

sou reticente com o desconhecido
mas me entrego à ele
desconheço de mim
o tanto que todos desconhecem

gosto de me descobrir
mas cubro-me se necessário

sou avessa à cerimônias
e gosto do papo reto

sangro com a dor do outro
fico velha cada dia sendo jovem com os meus


minha vida é doação e entrega
e eu me apego no impossível!




segunda-feira, 9 de junho de 2014

Brasil para o mundo

No Brasil em que morriam as crianças antes de completar
8
anos de
idade
Agora tem Copa(terá?)
se diz sem miséria
se diz sem pobreza
que seria a miséria?
onde estaria a pobreza?

No Brasil de 2014
e nas duas décadas anteriores
e historicamente
a população pobre
jovem
negra
é morta pelo Estado
por aqueles que
os deveriam proteger

No Brasil de todos
o turismo sexual
que violenta
mata meninas e mulheres
é vendido em propagandas!

No Brasil sem centro
à direita
ou sem esquerda
as vozes caladas
se exprimem nas paredes
e não se cansa de dizer NÃO
para a morte
e sim para a vida que virá!












terça-feira, 27 de maio de 2014

Por um conto

Nem conto
o que se conta
cada um sabe o que conta
quanta conta
se desconta
se desfaz
se apronta
e, no fim, o que conta
é um conto sem conta








segunda-feira, 19 de maio de 2014

Poética da cara

Eu?
que não sei que é
nem que sou
se sou assim
sorriso pela metade
sem medo de mim
dando a cara
mostrando o que?
Sem saber muito bem
o que faz
mas se faz, tenta saber fazer!

terça-feira, 6 de maio de 2014

Estrangeiros e de cabeça para baixo*

Ela passava pela rua e ouvia comentários:" onde ele está?" "para onde foi?", "não sei, estão batendo nele lá embaixo, eu acho!"
Continuou andando e viu uma pequena multidão, todos olhavam para o meio do círculo, mas ela não via. Via apenas olhares, alguns murmúrios, e quando conseguiu ver, o jovem estava deitado, de cabeça virada para o chão, mãos presas por um homem, dizia-se ser policial, não trazia credencial, não estava uniformizado...nada disso ela via.
Só via, ouvia que era preciso bater no rapaz, era preciso amarrá-lo no poste, colocar fogo no mesmo. Impressionante mas nada daquilo era natural, mesmo sendo repetido, repetido, insistente na cidade onde ela nasceu, no país em que ela vive! Chegou a lembrar dos casos de fogo, de morte, de matar o outro na rua.
Ouvia que ele tinha roubado um celular, via o celular na mão de sua proprietária(a mesma repetia ao celular a mesma cena e dizia:"vou ficar aqui é lógico! vou esperar a polícia chegar!) ela o teve de volta, mas insistia. Insistia em quê?
Para ela que via já estava tudo consumado, a pena já tinha sido dada, o vexame a que o jovem foi submetido, a vergonha, a exposição! Talvez ali se coubesse a palavra que tal uma justiça restaurativa? Mas não!
Não! Eles, elas queriam mais! Bater, matar, linchar(com ch?)!
Era terrível presenciar o fato, mas permanecia ali, parada, tentava falar, mas pouco saiu de sua boca, só um:"por quê ele está deitado assim no chão?" As respostas eram evasivas ou indiferentes, e os olhares direcionados à ela era como se a mesma não fosse desse mundo. Um ser estrangeiro que não entendia nada de justiça!
Sim, ela era mesmo estrangeira e continuaria a ser, porque sem entender iria continuar, afinal a propriedade foi violentada, era um celular(!) era uma mulher! " por quê você não rouba de homem?" disse um dos ditos policiais ao jovem. Diga-se também policias que prenderam o jovem sem nenhuma credencial e com aval dos policiais que chegam logo após na cena urbana, no caos justiceiro!

Era e continuaria a ser estrangeira num mundo onde a justiça funciona para seres de uma determinada cor, de um determinado local e de determinadas posturas. Era sim estrangeira, mas a ironia do se estrangeirar não a repudiava, repudiava e repudia o querer ser formatado onde se coloca o ter em detrimento do ser...era mesmo estrangeira! E permaneceria...









*Esse(essa?) vai em como "presente" aos transeuntes que abordaram um jovem hoje na esquina de Afonso Pena com Guajajaras..



domingo, 13 de abril de 2014

Pixo

Argumento feito em tinta
sem lápis e sem papel
o "elemento" que pinta
é o sujeito com lata e pincel

A irracionalidade faminta
numa reflexão no arranha-céu
A complexidade não se finda
na marca feita sem véu

Quanto mais extinta
mais se multiplica sem troféu
a literalidade cognitiva
do que se inscreve num insano fel.




quarta-feira, 19 de março de 2014

Somos Cláudias


Somos Cláudias
Douglas, Cristianos e Leandros
Somos Sandros antes do 174
somos filhos
somos mães e avós
pais de sangue e de coração
somos um deputado que clama por justiça
somos mais que um partido
corações e corpos feridos!
Somos vozes que choram e tentam abrir caminhos
somos em uníssono o canto da vontade de não mais morrer!
Somos favela, quebrada, sonho e realidade
uma fissura na sua verdade
somos cidade!
Um poema que corta bem no fundo de sua vaidade
do seu poder...
somos a construção do nosso querer
Somos a língua da nova geração
intempestiva
ampliando os versos
rebatendo os debates falidos
repetindo refrões resumidos:" Paz, Justiça e Liberdade!"
Somos uma paz que não nega o conflito
uma guerra sem balas
uma batalha de rimas
uma fome de trégua!
Somos luz que ainda ofuscada
semeia outros caminhos
somos loucos correndo atrás de moinhos
somos a esperança que não treme diante de vossa mão ensanguentada.
Bem mais que só dor lamentada!
Temos muitos nomes, não entramos só em vossas estatísticas
não aceitamos as vossas falsas perícias
não alimentamos vossos canais com as gélidas notícias.
Somos mãos que se dão e fazem juntas um laço
somos juntos um forte e coerente abraço
porque nós temos cor daquilo que se forjará nesse nosso espaço.









quinta-feira, 13 de março de 2014

Receita

Ponha a palavra ao pé da cachoeira
estique-a até a montanha
massageie-a até brilhar
deixe que o verbo a atravesse...
um pouco de calor
e um fermento conjuntivo
e dá-se a obra!

terça-feira, 11 de março de 2014

Provocante

O melhor/pior da palavra é insignificar-se
não ser traduzível
semear dúvida
provocar rompimentos
e também enlaces
A palavra não age, mas sugere
e o corpo (i)racionalizando se lança em ação
A palavra provoca
(in)voca
o ser
a uma outra expressão

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Me De(c)serto

No deserto das lutas inglórias
decerto o silêncio é memória
desertando do meio e de fora
acha palavras para ajudar a contar histórias

singelas contribuem verbalmente
num abismo
num capital que só ignora: criança, menino, mulher e idoso
forja nas terminações uma gana de mudar as retóricas...





quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A(cerca) da cidade



Você cercou a cidade e a queria morta
Mas bem na sua porta
Se acerca paradoxalmente uma rosa com um leão

A delicadeza louca da cidade
Não aceita sua grade
A desforra e a corrupção

Pacíficos ou enraivecidos
Os sem nada, sem lugar e unidos
São um fardo na sua obra em construção

A cidade se encontra possuída
Delirada por quem só queria Copa e torcida

Mas ainda existe resistência em outra versão!


                           








terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sintaxe versada

Porque a sintaxe prevê a palavra
somente no seu ser adoecido.
o verso compreende o significante abstraído
e lhe apodera alternativas.
A norma, ciumenta  e atormentada,
chama o poeta
à vida regrada
e ele a brincar com os termos,
com sutilezas e exageros,
pois é mais flexível no intento de ser inteiro.







terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Solidão aprendizado

           

             Em dias de solidão pegue a caneta(os dígitos?) e escreva. Sim! Escreva. Escreva, mas não daquela solidão ardida e amargurada, essa não, essa não merece ser escrita. Escreva sim, na solidão escreva, mas da solidão aprendizado. Dos portos que ainda não conhecestes, das ilhas que nem sabes os nomes, mas escreva. É necessária uma memória, um fracasso e a vitória da mão desarmada.
             Em dias solitários conhece-te, não fiques injuriado(a) com o silêncio. É neste momento que aprendes que sozinho(a) podes entrar mais para dentro de ti e ainda poderás viver. Que podes desvincular-se de regras gramaticais ou sociais.
             Em dias quentes e calados é que descobres que podes enamorar de algo mesmo de ti e sua vida é embebida em sonhos e em concretos, que os que passaram também foram projetos e que deixaram(e tu deixaste) mal ou bem, algo de deles(em si) que ficou em ti.



                                       

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

"O que não foi não é" *



                      A vida é sim um mistério e nada há que se fazer para desfazer o nó desse embrulho! Não foi, seria? Como seria se fosse? Muitas perguntas feitas, muitas dúvidas ainda a corroer o ser. Agora uma coisa é certa! Certíssima! Aprendida à duras penas, ou, se não aprendida, no caminho: a angústia sempre nos perseguirá. Aprendida com Clóvis Barros Filho em inúmeros debates assistidos e nenhuma leitura ainda.(Ainda!) Como seres humanos conviveremos eternamente com a "liberdade" de escolher uma vida e sofrer por outras que poderíamos ter vivido!
                      Seria este mesmo o meu amor? O que faço neste trabalho? Por quê ainda insisto nessas situações? O quê fazer agora? É sempre um recomeçar... e que chata seria a vida se já tivéssemos certeza de que era essa mesma a decisão de tudo(algumas coisas você tem certeza que fez a escolha certa, não havia outro caminho e nessas poucas decisões se fortalece)! Um roteiro já conhecido! Que desinteressante! Afinal podemos, mesmo na ansiedade da dúvida, tentar o inusitado.
                      Seguimos num caminho ainda incerto, mas acreditamos que há algo lá na frente. Somente por acreditar que vamos até lá! A análise, com seus duros momentos, mas delicadas descobertas me fez ir entendendo que, a gente vai Lá i lá porque a gente tem esperança, porque a vê uma luz, uma possibilidade. Laila, Lá e lá, sempre tá no nome. Aponta para frente e tenta decidir, tenta, tenta. Cai, tropeça de novo, levanta, recomeça. Cada dia de um jeito, uma nova forma. A dureza das descobertas, a ida ao fundo das reflexões, a necessidade de sair, afastar-se e encontrar-se porque é preciso entender que o que não foi não é e o que será não se sabe. Sem aceitações ingênuas, mas sem hesitações românticas...

Tentando ser...



* trecho da canção: "O Velho e o moço" Los Hermanos