sábado, 23 de dezembro de 2017

Pela intransitividade

É preciso (in)trasitividades
além de objetificar os verbos
coisificar os sujeitos
e, abominando regras exploratórias,
fazer novidades


A vida não pode transitar
somente no absurdo do ajuntamento das conjunções
vossas máximas
as exceções
as perversões da letra
não podem ser a primazia

Nós queremos a libertação do nome
a emancipação completa do ser
sendo de fala
ou surdo

A nossa luta cotidiana
na oralidade verdadeira
no limiar da palavra dita
nos conjuga da certeza da vitória

Nossa escrita é feita com sangue
enquanto a vossa é de tinta fresca
Nossa história fica nos cantos dos terreiros
e nosso real não se perfaz de textos e assinaturas

É no dia a dia da vida que traçamos a vida futura
nossos partos são em casa
nosso pé anda no chão

Não lhes pedimos licença para passar
o mundo já é nosso por direito!















quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Condução coercitiva-cotidiana

Quando eles chegam de coturno
chutam a porta
e nem pedem licença
quem se importa?

Quando eles chegam de madrugada
levam meu filho
desaparece o vivo
aparece o corpo
quem se esforça?

Quando a porta já nem chave tem
quando eles nos olham na cara com desdém
quando o helicóptero-cotidiano
barulhento
deixa-nos surdos
deixa-nos mudos
quem acorda?

Quando era chibatada
Quando era tronco
Quando era público o castigo
Quem ignora?

Quando a gente, livre?
trabalhadores violentados
produzindo em série
suando sangue
na linha que despeja carros
quem se arvora?

Quando as mulheres
em casa, nas casas das famílias
família era só a branca com bebês assépticos
enquanto nossos filhos em casa
sem pão e sem educação
quem os nota?

Quando eles nos levam de nossas casas
quando eles nos despejam
quando a casa vira prédio e especulação!
Quem denota?

Muitas perguntas
poucas respostas
trabalho explorado
cárcere
mais-valia absoluta
quarteirização!
Ninguém revolta!



























terça-feira, 21 de novembro de 2017

Para hacer una poesía

La poesía es el sonido del mar
Es la cáscara de la naranja
Son las olas fuertes o tranquilas
Para hacer la poesía es necesario conocer los dolores de los pobres
Los miedos de una mamá con su hijo(a) enfermo(a)
Lo que pasa la gente en la cárcel
La poesía nos es un grito solo, pero tampoco una sonrisa sin sentido
Para hacerla 
Hay que encontrar los términos
Sufrir con ellos
Tenerles mucha rabia
Cantar cada una de las palabras de la gente hambrienta
La poesía tiene pocas palabras
Sí tiene muchas es un tratado poetico
Es un panfleto que también puede rimar
La poesía está en el corazón del mundo
Pero camina siempre 
Viaja en colectivo
En autos
Pero le gusta a ella andar con los pies en el suelo

             

sábado, 18 de novembro de 2017

Sobre amar

Eu amo tardes em praças
Amo flertes pela janela do ônibus
e
transas fortuitas(assustadas)
em manhãs de domingo



segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Crônica-conto das acerolas*

                 Caminhando pelas estradas de Olinda deparo-me com um vendedor de frutas. Trazia numa bicicleta  um cesto de palha repleto de frutas das mais coloridas possíveis. Avistava-lhe ao longe e aproximei-me quando, de repente, caem-lhe parte de suas frutas no chão. Aquelas frutas de um vermelho-sangue, saindo vida do cesto amarelo-claro. O susto que o acometeu me contagiou e como se me tragasse pelos olhos corri para socorrê-lo, e, ao mesmo tempo se nos vinham pessoas de todos os lados.
                   Ao mesmo tempo em que, catava-lhe as frutas, pensava:" De onde saíram tantas pessoas?" Ele, num átimo de vergonha e medo dizia-nos:" Olhe! Está bom! Não precisa catar mais!" Como se fosse dele uma travessura de menino,como se tanta gente acolhendo-o em sua fragilidade, o colocasse em uma situação de exposição pública! Uma das pessoas, uma mulher num sorriso:" Não! Elas estão tão bonitas! Vamos catar tudo!" E eu, em meio às futas mais suculentas que já tinha visto espalhadas pelo chão sorria como se pensasse:" As pessoas são generosas, há alguma coisa por dentro ainda para superar esse mal do mundo, essa coisa chamada ganância, esse medo de estar com medo!'
                  A coisa acontece em minutos e, de volta todas as bolinhas vermelhas no cesto, ele sorri e agradece. A bicicleta segue em caminho contrário ao meu. Sigo feliz porque alguém segue bem. Ao final do caminho encontro o mar, sóbrio e calado. Num dia chuvoso de uma cidade linda, que até grita:" Ó!Linda!"



* que me perdoe o fruteiro, não fotografei suas acerolas para que seja vívida a história. Esta que vos vai aqui é de pai e mãe, do quintal daqui de casa.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Para o crivo do poeta


À passagem da palavra
submeto escrita torta
Não há dor mais sofrida
que essa letra morta

À prescrição da gramática
A subversão prosaica
Não existe poesia-regra
Nem sociedade justa-laica

Sou apenas caçador de palavras
Tentativa verbo-ourives
Minha boca não mais fala
Escrevo apenas cicatrizes

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Frio e despejo*

Açoite de pimenta e vento
lançam à rua os lanceiros
Pancada na cara: Aí não podes morar!
Surge o poder violento

Sem casa
sem poder morar

os desprivilegiados
perdem o momento

pobre não tem lar
nem pode querer ter nem ser
nem vida, nem documento

o poder lança seu lance de bilhar
prédio é de gente de tento
tino pra exploração
e nosso pesar não é só descontentamento

Lançados os negros e negras do lugar de morar
tão sempre em movimento!



                                              *sobre o despejo da Ocupação Lanceiros Negros no Rio Grande do Sul




                                   


foto postada no facebook de: Elenara Vitoria Cariboni Iabel

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Palavra


Quando não te sinto mais
é dor
quando estás presente demais
torpor

Quando prazer demais
suor
quando expressões desfaz
sabor

Quando não sabe o que mais
amor

Quando o verbo falta
horror
quando a reposta viola e trai
terror

Quando a expressão singela
vapor

Quando não quero mais
é que vou

Quando é política
eu estou

Se for filosofia
escapou

Se for pra reverberar
não sou

mas pra poetizar
conjugou

o problema é tentar explicar
nem tentou

porque palavras verbalizadas
não sou
















quarta-feira, 29 de março de 2017

Terceira vez

Erra uma, duas
Três vezes!
mais eleitorado

Perde direitos
sai, trabalha, bate cartão
explorado

Faz greve,mobiliza
é a enésima vez
está revoltado

Proletário presidente
sindicalizado
sempre e outra vez
mas deu foi privado

não só disso se vive
se repete a falha
um, dias e outra vez
midiatizado

Repete, aperta
força a forca do que se vê
pelo trabalho estrangulado


Produz
não liberta
nem patrão mais se vê
terceirizado!






quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Para mulheres-Marisa


Viste desde longe 
suave, singela
mas com força
realiza
Clara mulher
muito o claro o que quer
Sois vós Marisa

De tantas mulheres
um sorriso
um olhar
que esse mal exorciza

sabes de onde
para onde caminhas
por esse mar político
que habitas

esperança, mulheres
teu rosto suaviza
mesmo em meio à leviandades
tropeços
erros históricos
não se martiriza

Foi por doença
perda e pranto
essa nuvem de artimanhas
barganhas
precisas

A saída se faz 
quando acreditamos em mais
nossas sinas, coalizas

Margarida Alves
Anita
Elisas
Mulheres com cantos e contos
Coralina, Cecílias

Por vozes
coragem
verdades futuras
teu nome sinaliza










sábado, 14 de janeiro de 2017

Desses tempos

Haja tempo
transgressão
Boleto bancário
Altos salários
bordão

Falta tempo
De ser
de entender
de refazer
contradição

Angústia-tempo
de amanhecer
reescrever
contradizer
sintetizar
um refrão

Sobra tempo
velhacaria
supermercado
dose dupla, mesmo homeopática
sem invenção

Outro tempo
submergir
enfeitiçar
mudar histórias
social
perder
intenção

Exagerar no tempo
muitos goles
embriaguez
insubordinar-se
R-evolução.