terça-feira, 16 de abril de 2019

Essa gente

Eu gosto de gente de verdade
Gente que tem coragem de raspar a cabeça
Gente que mora debaixo do viaduto
eu gosto de gente que tropeça no próprio erro
volta
comete o mesmo erro
renova
não chora por pouco
gosto de gente que sangra
que usa drogas!!!!
gente verborrágica
eu não tô nem aí pra gente que sabe qual o melhor vinho para se beber em determinada ocasião
mas eu gosto de gente que toma vinho doce e barato
eu gosto de gente que tem coragem de abrir a porta de casa de manhã para uma visita, descalça, com a roupa que dormiu e SEM escovar dente!
Gosto de gente que nem liga se a água que vai pra garrafa da geladeira é da torneira!
Eu gosto de gente que ocupa terra e prédio
e gente que transa sem se preocupar com depilação!

Eu gosto de gente que grita na rua um conhecido
e que fala alto nos butecos da cidade
Gosto de gente que olha com olho esbugalhado
que tudo é novidade
gente que sorri pra criança no ônibus que vai ao lado do dela
gente que abraça quem nunca viu

Eu gosto de gente que não precisa de armas para se defender
gente que debate ideias, e que sofre quando não é entendida

Eu gosto de gente, gente de verdade
gente política!
que não joga fora a vida com mesquinharia
gente que não se acha tão importante
mas gosto de gente que dá importância!!












quarta-feira, 10 de abril de 2019

Um olhar

Eu ia para o trabalho caminhando, coisa que faço quase todos os dias nos últimos três meses. Ela, cabeça baixa, sentada em um espaço onde há uma espécie de academia ao ar livre. A cidade oferta academia em público, saúde(assistência) já quase não...
Bom, eu passei por ela, olhei para trás, ela de cabeça baixa, um boné caído no chão. Ela parecia trêmula; e em sua mão, bem fechada, uma nota de dois reais. Eu não sabia o que ela sentia, estava de short e camiseta. Entretanto, o modo como estava encolhida aparentava frio. Voltei e toquei seu ombro, ao mesmo tempo em que, peguei o boné no chão. Olhei pra ela e ela permanecia com os olhos baixos, creio que meio adormecida. Disse-lhe:" Oi.Olhe seu boné." Ela levantou os olhos, olhos muito grandes! Os maiores olhos que eu vi em minha vida! Disse-lhe:" Tome essa água"(deixando a minha garrafa de água ao seu lado). Ela olhou para a garrafa, não disse nada, sorriu. Um sorriso com poucos dentes, mas um sorriso agradecido.

Saí caminhando marcada por aquele olhar, um olhar de rua, um olhar de manhã de dia de semana, um olhar de cidade sitiada, um olhar que diz muito, mesmo sem dizer nada...