quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Sobre o não ser

A palavra não é concessão
talvez posição
O termo não aderido
não pede condição,
ele se mantém
por opção
O significante precisa ser ouvido e,
não pede explicação.
A marca deixada mesmo sem sentido
dá vida aos que não são.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Sobre pedagogia do impossível


Fosse possível uma pedagogia para o amor Uma didática para o afeto Um intenso e formativo Preparo para o sentir
Amor não se dá em conceitos Não se fixa em terminologias Para amar não se sabe Nem se aprende em institutos
O amor se mostra na prática dura do viver Numa tarde em abandono Em lágrimas caídas no intervalo diário Em propostas inaceitáveis Em difíceis mostras de abraço Em toques curtos E em intensos trabalhos

terça-feira, 24 de setembro de 2013

outros meios, outras vias

facebook é lugar do perfil
melhor seria um PQP!
é lugar de auto promoção
no volume mais alto de qualquer liquidação!

onde foi?
por onde passou?
casado, descasado
num descaso com o ser

facebook é muitas vezes lugar de ter!
tem propaganda
tem xingamento
mentira repetida mil vezes
uma verdade escondendo!

rede social da ordem estabelecida
de vez em quando pervertida
e um drible no Estado conseguiu!

mas, só de outra forma é possível
não somente grupos fechados
ou estando invisível
pois a certeza mesmo é o que de verdade nos uniu!



                                         



domingo, 22 de setembro de 2013

Urgências terminológicas



É preciso sintetizar a palavra "crime",
fazê-la cozida, refogada
Comê-la
junto com a expressão: "na boa"
Engolir "sem brava"
uma onda nova de outras possibilidades

Cortar em fatias o termo "bandido"
e de sobremesa saborear "vida louca"

Acreditar numa nova "malandragem"

Porque é no absurdo da real
à margem
que se aprende o sentido da vida.



sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A Revolução das Crianças


                      Bom, o título do que vai escrito já existe num dos livros mais apaixonantes que já li e, que, vai com a capa fotografada ao final deste. Entretanto, repeti-lo faz-se necessário por uma ideia, às vezes romantizada, às vezes idealista do significado das crianças em meio à sociedade. Acho que criança é um ser específico, com possibilidades e necessidades específicas, mas que, nem por isso devem ser vistas como mais ou menos que nenhuma outra categoria. O que é importante é que sempre ao nos referirmos à elas seja claro para nós que elas estão mais perto que que será do que nós adultos, já idos. Talvez como diria Rolando Boldrin ao se referir aos que morrem: " viajou fora do combinado" Nós mais velhos, mesmo diante de uma realidade muito violenta e que faz viajar bem fora do combinado milhares de crianças e milhões de jovens no mundo todos dias, ainda assim nos vemos mais perto do fim dessa história, quando nos deparamos com crianças ao nosso lado: brincando, imaginando, inventando..
                     Essa reflexão vai por uma passada em frente ao Parque Municipal hoje e o ter-me deparado com centenas de crianças, e muitos adolescentes. A maioria vestidos com os uniformes dos projetos escola integrada e escola de tempo integral(tá rolando um Fórum lá, e que bom que as criança estão presentes!). Sendo oriunda, deste trabalho tenho um bocado de crítica ao mesmo. Não sei como o mesmo se apresenta agora, mas guardo um respeito especial pelos trabalhadores que se colocam à disposição para realiza-lo. Meus quase nove meses trabalhando nessa empreitada, ensinaram-me que, para além de exigir que os meninos e meninas permaneçam "seguros" por quase nove horas por dentro dos muros da escola, precisa-se ocupar as ruas e torná-las muito mais nossas, mesmo sendo o nós crianças pequenas ainda. A rua é a possibilidade lúdica, concreta, imaginativa e talvez absurda do aprendizado!
                     Agora, trabalhando com meninos em privação de liberdade tenho ainda mais acreditado que a rua é o símbolo daquilo que mais nos assusta, mas que também nos atrai, principalmente meninos! Leminski já dizia:

                                                        " Ainda vão me matar numa rua.
                                                          Quando descobrirem,
                                                          principalmente,
                                                          que faço parte dessa gente
                                                          que acha que a rua
                                                          é a parte principal da cidade" ( Quarenta clics em Curitiba,1976)

                       Acaso não fosse coincidência com o que se passa em nossos tempos...

                  Aí cabem as angústias dos poetas... aí cabe uma fala à uma senhora idosa ao fim da quase passeata que subia a Rua da Bahia e a Afonso Pena até o Parque seguia, ela dizia angustiada: " minha filha essa bagunça vai até subir a Afonso Pena?" Eu respondi com um sorriso, cheio de esperança e alegria:" Não se preocupe! Essa "bagunça" vai entrar no parque municipal, num instante a senhora poderá passar! Olhe que bonito! Muita criança! Ainda há esperança!" Ela me agradece, acho que entendendo que é tranquilo passar por eles... eu sigo com o coração cheio de esperança e sem ilusões, acreditando no som do batuque da Revolução das Crianças.



                                                 
                 


















sábado, 31 de agosto de 2013

Não é fácil, Cuba!

De Cuba é fácil falar mal
desrespeitar seus habitantes
chamar de ditadura
e não ver que andamos na linha "dura" do Capital!

Do que se tenta mudar
e chamar de não democracia 
é muito simples dizer
difícil é se posicionar contra
Jabor, Reinaldo Azevedo e Alexandre Garcia!

É simples meter o pé
não refletir
ter o que criticar
Difícil é entrar na contradição
compreender as merdas ditas e contradizer
Datena e Sônia Abrão!

É qualquer coisa 
é nada
é menos
tantos anos de construção
Difícil é botar o pé 
tentar forjar outro mundo
e mesmo que tenhamos que inventar outra palavra*
fortalecer o sentido da Revolução!





* aprendi com Bakhtin a força de tentar entender a filosofia da linguagem, creio que precisaremos inventar outra língua ou não inventar, mas forjar outra maneira menos porca de nos comunicar num mundo mais humano, menos mentiroso!



                                                               





domingo, 25 de agosto de 2013

Bandido, todo mundo é(pode ser)

Bandido
malandro
todo mundo é,
pode ser
velho
homem
jovem
ou mulher

Pode gordo
alto, magro
branco
verde ou das galés.

Bandidos
todos nós podemos ser
diante de tanto dado na TV

Pode por uma mentira
por um desvio
um silêncio
um tiro
ou um assovio!

Bandido
aquele menino é?
Se pula o muro da escola?
Se é melhor jogar bola!
se a vida de papéis ele não quer?

Bandida
aquela menina pode ser
se não deseja a publicidade da modelo
ou decide por si mesmo seu cabelo
ou com que cara quer comer!?

Bandido(a) sou eu
aquele lá
e você
se a vida dura do trabalho não aprouver?
se a cruel rotina não puder?
e a vida louca seduzir o ser?!

Bandido é o patrão!
o dono da boca?
e o atravessador?
É o deputado surdo à dor
o(a) presidente que
não usa o conhecer
ou deixa de saber...

Bandido é o médico
quando só receita sabe fazer
o professor quando acha que é só dele o saber
e o estudante quando pensa enganar
quando engana o seu próprio ser

Bandida é a sociedade
mentirosa
negligente
e que finge não ver
violência policial
sangue
morte
e um monte se perder
quando é preciso abrir os olhos
para além do que se vê.






sábado, 10 de agosto de 2013

o que (a)parece

Parece óbvio!
mas, ainda indiferença.

Parece nítido
mas ainda é desviante.

Parece lógico!
porém ainda invisível.

Parece claro!
entretanto, obscuro.

Parece perdido...
contudo, para alguns, encontrado!

                                                                   em 12/08/2012 depois de papo sobre miséria, indiferença...



                                                 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Palavra (re)corte


A palavra
assim como a faca
a folha de cana
a foice
ou o capim verde na mata
corta e sangra

Marca a folha
a parede
a porta
o muro

Deixa o sinal
da real frustração
da falta
do ganho
da perda
da vida
e da morte

Não tem medo do ritmo
e se musicaliza
sem receio

Não tem preconceito
com o modo
da escrita
seja no lápis, grafite
seja tinta
seja raspa
o importante é ser dita.



                                             








quarta-feira, 31 de julho de 2013

“Vira homi, porra!”* **

                                               

                                               



                               A expressão já me acompanha faz um tempo, afinal sendo mulher, ter os ouvidos atentos para expressões que colocam a mulher como ser inferior soa bem forte. Mas o debate aqui é sobre o homem mesmo, ou sobre o que dá, sendo mulher para entender do universo masculino...
                          É preciso ser homem, se mostrar homem, ter atitudes de homem, de macho, de viril, de dominador. Impressionante é pensar como esse ser homem, virar “homi porra”(!) está associado ao achar que ter essas características é portar-se de tal ou tal maneira, é esculachar quem não se porta, é tentar garantir um poder que se mantenha inalterado mesmo diante do medo, do fracasso, da culpa, da vergonha e da perda!
                      A vivência em ambientes quase que essencialmente masculinos me mostra o quão é importante prescindir da sociedade fálica e tentar entender por quê? Por quê é preciso virar homem? Como é ser homem? Chego a perguntar se é não chorar, se é estar o tempo todo armado(armado não de armas, talvez sim, mas em segurança, travado), o tempo todo pensando em possíveis ataques...
                   Vivi e vivo imersa em universo masculino toda a vida, afinal somente a mãe, e dois irmãos e um pai já mostram a diferença nos formatos. Costumava dizer tenho dois irmãos, um pai e uma mãe no estilo paraíba masculino! Naquilo que tem de força nisso, de autenticidade e não de sobreposição de poderes. Minha casa nunca foi um paraíso, (ainda bem!), como nossa sociedade gosta de vender, mas sempre tentaram, no caso meus pais, fazer acordos. Os castigos(a gente nunca foi agredido) era decididos à portas fechadas. KKK! Era fazer uma merda e à noite a porta fechava e era a reunião dos dois para decidir do que seríamos privados. E, sinceramente, mesmo com pouca formação acadêmica, esses dois sabiam mesmo castigar! Eles foram surrados na infância e não fizeram isso com a gente. Os castigos eram: uma semana ou um mês sem TV, dependia da gravidade da travessura. Ou um mês sem andar de bicicleta na rua(isso doía como um punhalada!). E era assim todo mundo se castigava junto e aí se ninguém via TV(eles não ligavam! Doido demais!) todo mundo ficava batendo papo e haja oralidade na veia dos filhos!(kkk).
                  Fico imaginando como se perdeu essa necessidade de não “virar homi” mas virar gente! É importante entender o termo no sentido da homofobia, do machismo e também do crucial que é entender que é para ser homem que muitos se colocam em risco, para tentar provar que o homem que o abandonou(quantos são os sem pai nas escolas, nas unidades socioeducativas, nas cadeias, nos manicômios, nas ruas?) não faz falta, ou fazendo e não se admitindo ele vai ver que um outro homem se formou em sua ausência.
              Essa figura do homem que acha que pra ser homem deve espancar, em casa sendo pai, na rua sendo polícia, ou exercendo qualquer lugar de poder em que subjuga homens, meninos, mulheres e meninas, essa figura é abominável.
              Acho que é preciso além desse “homi” que machuca, maltrata, entender que há “muié” que também faz isso, lembro-me de uma música apresenta a mim por um amigo rapper, uma música do Facção Central, um filho que conversa com uma mãe que o espancou.  Precisamos entender o local da falta do trabalho, ou do trabalho precarizado, precisamos ver para onde foram esses homens, em busca de que, exilados pela realidade capitalista. Há que se buscar saídas para ser homem, mulher, menino, menina, de qualquer orientação sexual, com um jeito peculiar cada um, porque se for só pra “virar homi” a gente continuará numa perda incansável de seres numa vala que não tem volta. Ainda há esperança, com todo ser com qualquer gênero...



*fala de menino que voltava de uma brincadeira de empinar papagaio no bairro Viena em Ribeirão das Neves.


** para meu pai e minha mãe e as pedagogas Tamy e Pink do CEIP Dom Bosco, unidade provisória de internação e adolescentes em BH.




                                           


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Apresentando a palavra


Eu apresento a palavra
torta
suja
ignorante e vesga

murcha
podre
intolerante às vezes

mas possível
dura
cintilante
e quente

carinhosa
pungente
esquizofrênica
e picante

lúdica
módica
exuberante
esquálida

curta
grossa
excitante
inválida

pobre
forte
assustadora
e pálida!

palavra de ventre
mobilizada por ventríloquo
surda
muda e que potente
sábia!



                                                 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Quereres

Eu quero a agonia
do capital monopolista

A queda dos bancos

O fim das corporações

A derrocada do dinheiro

E com todos eles a morte do ESTADO.



                                         

domingo, 14 de julho de 2013

O amor repartido




Há uma parte do amor que é verdade
Há outra que é desejo
Uma parte dele é saudade
A outra é beijo
Uma parte do amor é abraço
A outra é encontro e segredo
Uma parte do amor é paixão

A outra é uma morte e um doce sabor, um lampejo.



sexta-feira, 12 de julho de 2013

Menina-Mulher*


Uma amiga diria um quarto de século
e outra: ela tem muito a dizer
menina e mulher

se a gente olha para as três
é possível ler
olhos fechados
pra sorrir

e de menina se tem o traço do rosto
e de mulher
tem a marca da vida

a mulher que vejo nelas
é menina
adolescente
mas é forte!

menina e mulher!

porque se fosse só uma
nada a ver!
se fosse mais para um que de outro
seria mãe
por outro cuidadora da saúde
e por fim da palavra
a letra(Letras) M-E-N-I-N-A
M-Ã-E
e MULHER!


*para a Bel que completa 25 primaveras, para a Tati mãe e mulher que me fala da idade e do quarto de séculos e para Carine que diz quando eu digo:" A Bel fala pouco em público, ela deveria falar mais!" Carine: "É ela tem muito a dizer..."



                 


quinta-feira, 4 de julho de 2013

A palavra, o pixo, a marca e o risco

                                      

                     Qualquer fala que tentasse se aproximar de uma relação ou referência à pixação teria que começar com transgressão. Começo já vendo que a palavra pixação para o computador está escrita errada e ele me marca de vermelho, corrigindo o x pelo ch. Eu insisto! Se me marca, e começar frase em português com pronome também é transgressão à gramática, eu deixo lá, porque não me interessa as regras gramaticais. Agradeço! Graças a deus, ou à vida eu consigo sobreviver sem entendê-las e, mesmo com a formação acadêmica, dita:”superior”( essa realidade insuperior da universidade!) me digno a não dizer mais nada ao equipamento. Seguimos transgredindo...
                  Fiquei mesmo imaginando durante as falas, diga-se de passagem, todas impressionantes(!!!), no evento “Juventude e Pixação”, se os pixadores estariam mesmo interessados ou até mesmo quisessem mesmo que aquilo ocorresse. Ao mesmo tempo, me regozijava com a fala de Lora, estudante, mãe e pixadora, num recortar de rimas que a identidade dá. Fiquei pensando se uma fala acerca da emoção e do calor que me subia durante cada gesto, cada olhar e cada palavra. Pensei na possibilidade de pegar o microfone e falar, pensei também no tanto que falo e por fim em escrever. Talvez fazer uma poesia, escrever uma crônica, mas qualquer referência ao dito não caberia nem mesmo na liberdade que a arte pode dar e, seria eu uma artista da palavra?
             Ainda assim insisto em dizer sobre a paixão do pixador ou pixadora ao encontrar a possibilidade de sua marca ficar ali, “seu risco que corre e o correr do risco”* passando para a parede aquilo de que coração e cabeça andam cheios! E transborda! Algo que a palavra, na formalidade gramatical não pode dar vazão! E é preciso inventar, artisticamente, ou toscamente, porque sinceramente eu acho que eles não estão nem aí! Nem com isso preocupados, em classificar, se é arte ou não FODA-SE, ou melhor FODAS! Acho que se eles tem alguma preocupação talvez seja a do rolé, rolê(?) dar certo, e certo é não rodar, não cair na mão de policial que só entende o pixo através da violência ao corpo e não através da voz, um medo talvez atroz, mas talvez que motive, de não ser morto por um dono de muro do lado de fora(PQP! Eles querem mandar no lado de fora! Por isso já escolhi meu lado, o de fora!). É fácil, ser da lei e bater em menino na rua, e pixar a cara dele, e fazer medo e ameaçar! Difícil é criar um código só seu, é subir em parede que ninguém tem coragem, é viver uma vida de cão, ou não, mas ter coragem de botar no muro não nos outros o que o corpo tá cheio! E vaza!
            Assim, qualquer palavra que tente explicar um traço, um risco daria vertente para um arriscado contorno que a gente não conhece, mas que fascina e por isso a gente também se torna pixador ou pixadora e é recebido com uma doçura nos espaços deles, e é aceito com as limitações do corpo que não sobe em paredes, mas se arrisca nos banheiros da universidade, em prefeituras, ou etc para não dar aos perseguidores tantas pistas, e vai tentando pixar um lero-lero ou começando a criar um código noutra língua, numa língua não mais falada, ou vendo que até analfabeto pode pixar e inscrever na real sua ideia! Aprende que pichador é simples e complexo, que teve um que matava aula pra ler nada menos que Zaratustra! Que é novinho, quase menino e é velho, talvez na idade mas nunca na disposição! Que pichadores não tem preconceito. É muro limpo, sujo, a maioria os abandonados! Mas que se esvai traçando na cidade um sinal, uma senha. Pode-se achá-los, um dia sim, se for sorrateiro, mas não pra puni-los mais que a realidade já o faz...
Sigo acreditando na palavra escrita ou falada, no pixo que insiste em sobreviver, mesmo matando ora pela fatalidade ora pela crueldade, na marca necessária a uma vida desmarcada e no risco que nós teremos que correr sempre, pois pra viver é preciso arriscar e olhar para o além que é o ser!


*Fala de Rogério Bettoni




                                           
















quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cadeia

Ela é feia, ou até bonita
mas é cadeia
e desse modo escrita
me aperreia!

Ela é fria
mas também me aceita
com meu calor rebelde
com minha boca quente*
e com uma palavra (in)certa

Ela é escura
e na sua vala
a desembocadura
é maioria pobre, homem
jovem
e preta

mas ela é possibilidade
pois se uma sociedade
não abre dela a porta
o provável
é o fel
sem mel
sem futuro
sem vida que incendeia.


* boca quente: língua solta, sincera...


                                   

terça-feira, 2 de julho de 2013

Opressões e formatos



O canal onde passa minha palavra está estupido
pela opressão da gramática.
O prego que tento enfiar na parede do verbo
não encontra martelo que o finque.
O som que eu tento tirar de uma lira imaginária
só respeita partitura.
Só o que me resta é pixar
as paredes
inventar novos códigos
pra acabar com essa forma formatada
de ditadura.


                                                 



                             

sábado, 29 de junho de 2013

Algumas palavras para Raul

se de menino ainda vindo
a gente tenta construir um mundo rosa e azul
pra ter duas cores e mais outras
e sem preconceitos ter bossa, funk, jazz, rap e blues

se ele está se formando
numa barriga
não tem ainda cor
ou a gente não vê
pode ser som e luz

a gente aqui de fora
construindo um mundo outro
fazendo nas ruas movimento
para que ele acredite menos no norte
o sul!

o que posso oferecer é minha palavra
sem muito saber de ti
mas muito querendo poder sentir
te prometo meu abraço
nada mais que isso

ou talvez
um afago de ideias
um sorriso, gargalhadas e histórias

ainda falta muito para ter mundo
que te mereça
mas imperfeitos em muito
pedimos licença para dar caminho a esse ainda nu...
um mundo possível pra Raul.



                                     






quarta-feira, 26 de junho de 2013

Cuando vuelvan los soldados*

A los dos que llegarán en esta casa
mis hermanos y compas
en esta casa les preparo una comida
y no porque soy la mujer
sino
porque no me fuí a la guerra en este momento!

A los otros
les preparo un plato de palabras
les envio mis deseos que no tengan sangre por el cuerpo
pero si los tiene
que sus heridas tengan un sentido

Cuando vuelvan los soldados
les digo que estoy con ellos
que no les temo
que mí vida es su vida
y que no creo en lo que dicen los medios burgueses

mí garganta tiene un nudo
mí pecho está harto de sufrir
y mis piernas hoy no pudieron caminar,
pero les envio parte de mis fuerzas!

Cuando necesiten llamar en mi puerta
le abro con placer
les doy un saludo
les ofrezco mis cuidados...

Cuando retornar los soldados
yo estaré con ellos
y vamos a hacer asambleas
y vamos a hacer nuestra política
y nomás nos van a tomar lo que es nuestro
lo más rico secreto
la más linda poesía
nuestra voz!



                                       


















* dijo Marx en el 18 Brumario que uno comprende una lengua cuando argumenta en ella y cuando puede hacer poesía...a ver...quiero que llegue lejo este!

terça-feira, 25 de junho de 2013

"Isso nunca aconteceu antes!"*




                     Nunca antes torcidas organizadas historicamente rivais se juntaram nas ruas para uma luta em comum, nunca foram tantos, tenta-se comparar com marchas contra a ditadura militar, diz-se do tempo dos cara pintadas, há quem se arrisque a sair com a cara pintada hoje(sinceramente não compartilho, apesar de respeitar!), há quem diga que não vai dar em nada, há quem se amedronte com a possibilidade de golpe militar e nova ditadura(aqui a clareza do possível, mas a não desesperança no que se pode fazer).
                    Nós, de trinta anos para baixo(rsrsr me coloco nos de trinta e uns...) podemos nos ver ali junto aos adolescentes, podemos sentir um ar de novidade. Nunca aconteceu! Nunca foi tão diverso, apesar de em minha cidade já começar a apontar para alguns caminhos em comum. O poder nunca poderia entender porque tantos nas ruas e como explicar o sentido de tudo isso! A mídia, carregando os sonhos dos dominantes, se contradiz, vai, volta, não sabe o que mais dizer. Eles continuam nas ruas. O poder que se arrogou sempre do povo, à esquerda, democrático não consegue dar uma vazão importante aos anseios. A direita tenta se fortalecer indo à mídia, dando entrevista, dizendo:" precisamos de uma liderança forte no Brasil!" eu pergunto: uma liderança feita no poder da bala como em 64? Não!
                    Mesmo com as contradições, mesmo com a diversidade, há que se acreditar que há ainda um novo a ser escrito, um novo com cara, cheiro, vontade e coragem do povo! À luz de Frei Betto, poderia relembrar que é preciso entender de verdade o povo, sentir o seu cheiro, viver suas angústias, entender suas demandas. Povo mesmo nas ruas? Ainda não se sabe, mas se pode ver um menino diante da marcha dos quase 130 mil, um menino favelado, ele sorri ao lado da mãe e nos mostra um cartaz: "obrigado por lutar por nosso futuro!" Isso nunca aconteceu antes! Aconteceu de jovens que não sabem bem ou até antes junto aos seus pais diante da TV fascista brasileira chamavam sem terra de oportunistas, agora aplaudem uma voz sem terra que diz:" a partir de 26 estaremos com todos nas ruas, onde houver um assentamento ou acampamento sem terra, a rodovia mais próxima será fechada!" Isso nunca aconteceu antes!
                    Nunca se poderia imaginar que as pessoas poderiam duvidar da comunicação dominante, mesmo com muitas dificuldades, mesmo com a sabotagem dos meios alternativos, ainda se leva uma voz dissonante da voz do Brasil às 19h, em Brasília!! Como diria o poeta:" há sempre alguém correndo, fugindo da Hora do Brasil!" e agora tentando ouvir outras vozes! Vozes de loucos que acreditam, vozes em assembleias com mais de 3 mil participantes e dando voz:" Todo mundo quer falar!" uma amiga empunha esse cartaz nas ruas! Não é só comida, nem só Copa, nem só governo dito de esquerda e NUNCA MAIS um governo fascista! Isso nunca aconteceu antes! E não vai mais acontecer de tomarem a nossa voz, porque se ouvissem as vozes que nós ouvimos, nas cadeias, nos manicômios, nas ruas, nos delírios nós não estaríamos nas ruas tomando a nossa voz! E já que não aconteceu de nos ouvir, nós os faremos nos escutar! Ou nos escutaremos com nossa forma de nos governar! Isso nunca aconteceu antes, mas está acontecendo!


Brasil!!!! Acordado há muito tempo!!! Agora é nossa voz!



                                                








































*" nunca torcidas historicamente rivais se juntaram nas ruas do Brasil para lutar, isso nunca aconteceu antes!" frase do amigo Sérgio Luiz, o Anjo

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sobreviventes da democracia

                   De alguma forma é preciso colocar para fora do corpo a revolta que te toma quase que por inteiro. É preciso racionalizar, ainda, na razão iluminada, mas já construindo outra razão. Acaso eu me contento com um discurso dado, não há como sair da inércia e do comodismo. Citemos o título...
                   Nada mais estranho que sobreviver num modo de governo que mais deveria ser de plena vida, não? Mas é...me lembro de argentinos e chilenos num curso, onde haviam cartazes mais ou menos assim: "mortos na ditadura, mortos na democracia!" A segunda opção ou era igual ou era maior. Assim a gente segue refletindo sobre como se lutou para que chegássemos à este modelo e o mesmo se apresenta falido. Não vou entrar nos debates acerca dos gritos:" Aqui não tem partido! Aqui não tem partido!" apesar de ter alguma noção acerca dos mesmos, acho melhor seguirmos nas ruas para ver se esse grito prossegue. Entremos na tentativa de entender como se pode matar tanto em modelos democráticos, ou pensar ao menos sobre...
                 O Estado brasileiro mata sua população jovem de maneira cada vez mais acintosa! Os números chegam a fazer "inveja" em guerras de libertação nacional, em conflitos históricos mundiais! É por esse caminho que quero seguir e tentar colocar novamente(como já tenho feito de forma virtual e também nas conversas na ruas) o porque de eu estar marchando e de mais vários que pensam parecido comigo. As pessoas jovens, negras e pobres estão sendo mortas, massacradas e desrespeitadas não é de agora, isso é estrutural e histórico, isso vem de longe. Mas talvez venha de agora alguma leitura de uma saída da subordinação. Não vou dizer que esta geração que está na rua está fazendo isso, estou falando de um agora não anteontem, hoje, mas de um agora de alguns anos para cá, de crescimento de uma voz desses condenados da terra como diria Fanon. Os meninos e meninas nessas condições, mesmo massacrados e abusados como são, estão muito mais fortes do que a democracia pode entender. E eu estou com eles.
               Quando a democracia permite que milhares de pessoas estejam nas ruas e ainda orienta que os não ataque, temos que entender que os que mesmo assim atacam querem dar uma resposta aos dois lados! A democracia no poder, descobri ontem: era traidora na luta contra a ditadura. Descobri o que já desconfiava, e um irmão/camarada me alerta: "ninguém entra no poder à toa Laila!" A democracia no poder no Brasil dá com uma mão aos pobres e com as duas juntas aos empresários e donos de corporações. A democracia no poder que hoje vivenciamos se exime da realidade sórdida de violência que sua gestão desenvolve. Eu entendo pouquíssimo de história do Estado, essa falha precisa ser sanada. Entretanto até onde sei ele é feito para mediar os conflitos entre as classes, talvez, o que temos visto é um Estado quase com um transtorno mental( carinhosamente respeitando meus irmãos loucos!), meio isso na falta de outra expressão, mas um Estado que à todo tempo se esguia de seu compromisso, ou se mantém num compromisso já esperado, mas não acreditado pela maioria. E tem muitos que estão nas ruas que querem outo Estado ditador! Não nos iludamos! A agora oposição não quer voltar a ser situação à toa!
                  Quando muitos respondem à esse Estado de forma violenta a mídia começa a chamar à paz. Mas assim retomando Fanon a destruição de um modelo violento só pode ser feito com violência! Claro que é preciso escolher o momento dessa, não podemos morrer nas mãos desse Estado agora, mas os submetidos à violência histórica ainda não estão todos e todas nas ruas! Quando essa maioria(desrespeitosamente chamada de minoria até pelos que dizem do lado deles!) perder a paciência não existirá força capaz de fazê-los retornar. E não há força no mundo mesmo capaz de deter uma ideia cujo tempo já tenha chegado.

Por outra ideia que não essa democracia!






domingo, 16 de junho de 2013

Sobre mudar o mundo

Para quem ainda insiste em não acreditar que o mundo pode mudar é necessário relembrar algumas coisas. O Brasil passou por um período ditatorial que marcou profundamente todo mundo, apesar de muita gente achar que aquele era que era um bom tempo. E, apesar de eu achar que nem aquele era e nem esse é o melhor tempo...

Há muito o que se dizer sobre a manifestação realizada em BH, assim como em outros Estados e cidades. Mas gostaria de me ater à discussões locais, afinal falar do outro lado das fronteiras só atravessando-as, e esse não é o meu caso, não estive lá, não sei exatamente o que aconteceu. Bom, nem mesmo em BH sei exatamente o que sucedeu. A Copa chegou e alvoroçou esses meninos? O transporte é ruim assim mesmo? Esses chamados via facebook e essas conversas-denúncias* via celular não fazem sentido?

Para quem está acostumado a olhar o mundo apenas por uma tela de computador talvez essas perguntas acima soem à ironia ou leviandade. Pode ser...vamos ao debate e também(!) às ruas. Claro que é necessário ser respeitoso com as limitações de saúde, de trabalho e outras mais de cada um. Ao me encaminhar para a manifestação, já atrasada, pois eu estava antes com quem(s) me deu o presente de viver, vi um dos militantes-usuários da saúde mental com sua namorada num bar em BH, no bairro aqui pertinho de casa onde ele e eu moramos e disse:" Olha só a galera tá na rua! Apareça lá!" Ele sorri, me abraça e se senta novamente, eu sei que provavelmente ele não irá, mas sei também que o mesmo não se ausenta de nenhum espaço onde se trava as lutas pelos direitos humanos dos portadores de sofrimento mental e assim ele também milita por mim, ou por você que temos sim probabilidade de um dia estarmos na mesma situação em que ele está. Dessa forma me encaminho no debate. Podemos nos ausentar e ainda assim estarmos lá. Confiantes de que mesmo não sendo o nosso(meu não eu não tenho um e nem quero ter! agradecida.) partido quem organizou, mesmo que não formos nós quem tem o megafone, e nem que puxamos o evento virtualmente mas acreditamos que é preciso colocar o corpo junto de todo espaço de luta mesmo que contraditório! Não seria eu injusta comigo mesmo e com todo mundo se não tivesse claro a contradição humana e a certeza que é preciso ir e tentar ouvir o que será dito e estar onde está sendo feito.
           E por isso eu vou, porque é impossível mudar o mundo sem se arriscar. Se a gente concorda mesmo e se indigna com a realidade é só saindo da inércia. Eu disse ao caminhar(fui sozinha, não estava em grupo, rodava com euforia no meio daquela multidão e pensava:"estou viva para ver isso acontecer!") para algumas pessoas:"mais criativos que os que puxam os gritos só os meninos em privação de liberdade!" As pessoas sorriam, respondiam, surgia um papo e logo depois eu seguia para outro canto. Não importava se não era exatamente como eu quero, era importante que acontecesse! Dois gritos me assustaram e não os pude reproduzir:" Ei FIFA vai tomar no cu" encontro um amigo gay e conversamos sobre esse e sobre outro grito:" para de gozar e vem pra rua protestar!" Não era nada agradável ouvir esses gritos, um porque ofende sim na minha opinião uma orientação sexual, o outro porque não condiz com a realidade de quem era alvo dele, as prostitutas da rua guaicurus, as mulheres que trabalham e eu tenho quase certeza, na mesma condição de mulher, que elas não chegam à nenhum gozo nesse ofício. Embora possa ser absurdo e discordar eu continuei, a vibração ainda era forte e continuou até que meu corpo sinalizou que era hora de finalizar.
                  Eles continuaram, eles ocuparam a Praça Sete de setembro, caminharam por quase todo centro da cidade, os protestos e gritos eram sim relevantes, mesmo que a Praça da Estação não tenha sido invadida, mesmo que não tenha havido um confronto direto com a polícia, mesmo que não houve uma ação organizada para mostrar aos que não lá estiveram que aquilo era mais que um monte de jovens nas ruas por nada. Não saem oito mil pessoas nas ruas de uma capital num país num sábado por nada! A cidade referência mundial dos butecos teve número expressivo de pessoas fora deles por pelo menos seis horas num sábado à tarde, num dia de jogo de uma copa que prepara para outra copa, isso é de se levar em consideração. Se não fui eu quem puxou o movimento, não importa, o que importa é fazer coro, estando a favor da maioria dos gritos e me abstendo de alguns deles. Porque para defender a rua, a cidade, a vida e o mundo para quem já estava nele antes e foi e está sendo despojado eu saio sim da inércia!

Faço coro ao grito:" Não é Turquia, não é a Grécia, é o Brasil saindo da inércia!"

Nós os marginais não temos nada a perder a não ser nossa privação de ser!

*sobre denúncias recorrentes via celular de abusos de policias, e outros agentes do Estado contra moradores de rua e adolescentes.

- foto da capa do facebook de Paloma Parentoni.

                                                           











sexta-feira, 14 de junho de 2013

Para o carnaval de 2014

No Carnaval de 2014 em
quem vai compor os sambas são os adolescentes privados de liberdade
os meninos e meninas de lá, do lado de lá do muro!

Quem vai cantar na rua são os loucos e moradores de rua

quem vai sambar na avenida serão as prostitutas!

policial não vai poder bater na cara do menino preto
nem tentar levar à força para casa, puxado pelo nariz, o menino rico que arrumou um amigo na rua

a guarda municipal vai enfiar nela mesma o gás de pimenta que ela pretende
temperar a ordem!

pois nossa ordem é caótica e nosso grito é forte!

Nós fingimos ter paciência

e não há força no mundo capaz de enfrentar a nossa ideia que já chegou!!!!!!!!!




               

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Sobre água e sobre privação de liberdade e de palavra*


                 Ele podia se indignar com tantas fontes dentro de sua própria casa, mas acreditava naquilo como uma benção, conhecia a história de sua mãe por trás daquilo que era seu fardo e também sua transcendência...
           Ela escutava quase todos os dias os gemidos surdos, mas ensurdecedores, dos homens encarcerados ao fundo de seu quintal. Sim! No fundo de sua casa havia uma estrutura inventada para prender homens, seres humanos, pessoas que disseram nãos. Alguns que não aceitaram a vida assim como ela é, era assim que ela enxergava aqueles seres, com força e com delicadeza. 
                   Demorou um tempo até que tivesse coragem de ir até o fundo do quintal e entender o por quê de tantos murmúrios, como se estivessem sendo açoitados. Não! O mais absurdo é que não! Naquela cadeia os homens, além de privados de liberdade, eram privados de água! Água? Sim! Acaso cometessem, internamente, alguma transgressão, eram privados de beber água. Tinha algum cabimento? Alguém para perguntar por quê? Não...e diante do não somente uma resposta calada e sincera. Somente uma ação: se não podem beber lá dentro, ela se ajeitou do lado de fora. Seria possível? Perguntou-se e foi ver...Era! Um buraco de saída de água! Paradoxal! Por onde se saía a água desperdiçada pela chuva ela podia entregar água, mas dentro de um copo, ou até mesmo com a mão, que eles, de um jeito ou de outro arrumavam posição para beber...
                    E se passaram anos, e a água continuou a entrar e a sair do presídio, a chuva quase traiçoeira não se permitia beber, mas as mãos calejadas daquela senhora enviava conforto aos aprisionados de voz, de vez e de água! Ela ouvia histórias, que podiam ser contadas pois sem sede podia-se falar. Ela não via rostos, só imaginava as feições. E, ali conseguia entender a realidade de cada um daqueles homens e o perverso por estarem ali...
                   Um dia um deles, quase que fazendo coro aos demais lhe diz:" em sua vida, em sua casa haverá água em abundância, para a eternidade..." E assim foi...
                  E passou a jorrar água pelas paredes de seu lar, e passou a ser água em sua vida, e toda a família começou a sentir-se banhada por tantas fontes que de todos os cantos saíam. Por primeiro uma sensação de estranhamento, logo depois da morte dela, revolta. Perguntava-se os que nasciam:" De onde vem tanta água?" E a história era contada e recontada, pois se havia água para molhar a garganta a possibilidade da palavra se fazia real naquele universo tão complexo e tão delicado!
                    As águas jorravam como se dissessem: " é possível, é possível ir além da privação da liberdade  e da privação da palavra..."


* para Ludmila Correa que me conta a "real" loucura dessa história!


                                                    




                  
                         


domingo, 9 de junho de 2013

Para que possamos ser

na cidade em que vivo tem menino trancado
tem gente de rua recolhida
tem rua limpa pra gringo
e prefeito safado!

no mundo que moro e me (de)formo
tem político pilantra em liberdade
tem criança privada de cidade
e uma Copa do mundo chegando pra nada!

No planeta em que estou
não se morre tanto por menos
se mata por ser
e se encarcera por pensar
não é o que você é
nem o que faz que te faz diferente
é o seu ser que incomoda
e por isso quem manda te prende!



                                                     

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Do contradito

Antes a imperfeição do verso
que a impossibilidade de versar

Antes a palavra mal feita
que a mudez no falar

O trato da letra
no prato dos livros

O bojo líquido da dor
a porta aberta do absurdo
Uma ponta do verbo
e um aposto para explicar

Se a rima não é suficiente
o importante é bradar.




                                               


domingo, 26 de maio de 2013

Onde morar?

Quero morar do lado de fora do muro
quero um passeio por casa
e para não morrer no frio
um cobertor de noite

Uma morada sem portas, sem janelas
para que eu nunca precise de chaves.

Um canto para guardar a palavra,
seja num papel
seja na memória...

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Brasil de(da) verdade

No Brasil da guerra criança ainda passa fome e morre de doenças primitivas
No Brasil por dentro o que vejo ainda é morte
morte de vida
vida severina se fudendo para vida verdadeira!

No Brasil da Copa o que se esconde é perda
o sossego é enganar-se
o recurso é uma mídia crack
uma ante-sala do inferno

No Brasil sem rosto
sobra imposto
e só desgosto
de ver o mote

No Brasil da peste
a sobrevivência é na luta
e a nossa conduta
é resistência agreste*!



                                                           













* que não se adapta à domesticidade: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=agreste

terça-feira, 21 de maio de 2013

Das invenções

deus inventou o mundo
o diabo as fronteiras

deus inventou a vida
o diabo a morte

deus inventou o céu
o diabo a tentação terrena

deus traçou a linha do horizonte
o diabo as delícias do escuro
deus inventou a natureza(ou a natureza deus?) e o ser pensante
o diabo(K) o trabalho explorado

Deus criou, criou, criou
o diabo duvidou
e os seres humanos se regozijaram e amaram

                                                                           acho que em novembro de 2012...




                                                     

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Luta Antimanicomial: uma luta que não se conta, se desconta...

Bom, dentre as muitas coisas impossíveis de contar, está a de descrever o que é luta antimanicomial. Apesar de eu ter certeza que as palavras aqui escritas não podem detalhar o que se sente, mas, diante de dois pedidos de quem vem ao meu coração, coloco em letras o que se vê de fato!

A luta antimanicomial se colocou a possibilidade de questionar uma instituição total, algo tido como inquestionável, afinal o capitalismo se acha inquestionável! O manicômio, sendo uma instituição asilar achou que seria páreo para um grupo de alucinados, trabalhadores, familiares, e claro, loucos! E assim foi se desconstruindo e descontando uma história de privação de liberdades e violações de direitos e construindo novas formas de se lidar com aquilo que não se inscreve na razão iluminada. Assim serviços novos foram estruturados, novas formas de entender a palavra, a voz ou o que se enxerga!

Belo Horizonte é uma das muitas cidades que conseguiu construir uma modalidade de serviços que tentassem, à revelia dos medos, uma dignidade delicada e uma cobertura ao que se deixou descoberto. Assim as residências terapêuticas, os CERSAM's, os Centros de Convivência, os CERSAMI's(pois criança que delira tem lugar aqui!)os CERSAM's AD e os serviços todos que coubessem a loucura e seus adereços, o transtorno por ser, ou por uso de substâncias, o percurso contrário ao que se espera dos normatizados!

Mas essa mesma Belo Horizonte, não só na luta antimanicomial, mas em outras várias frentes tem enfrentado uma gestão que não se furta a se imbecilizar ou a tratar de forma indelicada a política, o louco, o usuário de drogas, o jovem e toda a população e em 2012 obrigou o movimento a mudar a rota*, sim, mudamos a rota, mas não mudamos o rumo, diria Eliana Moraes do Fórum de Saúde Mental, e nesse ano, mesmo tomando essa outra rota o movimento conseguiu retornar à nossa principal avenida! Eu pude gritar: A Afonso Pena é nossa! ganhamos mais ruas e chegamos à Praça da Estação, abraçando-a e dela tomando conta! Continuo na onda do texto do ano passado:" Não se cala uma voz e nem o seu movimento e assim acredito que é possível uma sociedade sem manicômios, sem prisões, sem QUALQUER tipo de instituição total! Porque nós podemos muito mais do pode os nossos inimigos de classe ou de sentido, nós queremos um outro mundo e já o estamos construindo!




                                             











* há os que digam que o movimento recuou, mas é preciso acolher a dura realidade da loucura e entender o que é possível no enfrentamento e como é possível colocar milhares de loucos diante de uma cidade repressora e reprimida!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Pela verdadeira responsabilização de Chafik

                    Bom, um tema tão doloroso e tão contraditório como a traição, como o assassinato à traição, como o assassinato à traição em troca de poder, soaria talvez inútil, diante de uma sociedade marcada pelo monopólio dos meios de comunicação. É quase uma loucura tentar falar sobre algo do mais absurdo, diante de discursos como diria meu amigo Luciano:" discurso de surdos!" Mas como nós somos mesmo loucos e não é por acaso que desfilamos faz muitos anos nas ruas de Bh, vamos dar voz, ou melhor, escrita, à esse tão insano e tão perverso debate.
                    Chafik assassinou à traição vários militantes do movimento sem terra que ocupavam sua terra grilada(não esqueçamos disso!) e davam à ela uma função real, para o que ela realmente foi feita! Chafik utilizou dos artifícios do próprio movimento para eliminá-los e isso eu não sei pelo texto do admirável Frei Gilvander no Brasil de Fato ontem, eu sei através de um militante do acampamento Nova Vida, no ano de 2006, quando Bruno Pedersoli, numa brilhante ideia de me fazer calar*, decide junto à comissão organizadora do quarto EIV que eu iria para esse acampamento. Sim, um acampamento dos filhos do Aruega! Ali, diante da bandeira sem cor do movimento ele me disse(infelizmente minha memória me trai e esqueci o nome dele): " Os assassinos obrigaram os militantes-seguranças a soltarem foguetes na entrada da fazenda, esse sinal era nosso! E diante do sinal todos os militantes se juntaram e foi o massacre!" À traição o "dono" da fazenda mata junto à outros os que não aceitaram a concentração de terras no país, e confesso ele consegue duas vezes se livrar da prisão! Engraçado como a história sempre se repete, eu não li mesmo os textos errados, a cadeia, o sistema punitivo foi feito para um setor de classe, de determinada cor, de determinado local de moradia e com determinadas intenções acerca do mundo.
                  Assim e antiprisional como sou, gostaria de não relativizar a responsabilização de Chafik, mas gostaria de alertar para que somente estando na porta do Fórum Lafayete, ou colando cartazes pela cidade pedindo o encarceramento do empresário da terra, não é suficiente para entender e nem para conseguir avançar numa sociedade que o MST preza, com todo respeito ao MST e  respeito à essa ação sempre! Eu aprendi muito com esse movimento, mesmo nunca militando organicamente nele. Sei que há contradições internas, sei que uma prisão como essa garantiria um fortalecimento das ações, garantiria uma possível certeza de justiça. Entretanto, encarcerando Chafik não garantimos que o mesmo continue aliciando assassinos de sem terra, não garantimos que o mesmo lidere da cadeia(será que poderoso como é Chafik ficaria nas masmorras brasileiras? usaria o boi, alguém sabe o que é isso? Ficaria além de privado de liberdade, privado de todos os outros direitos garantidos na nossa Constituição como ficam a maioria dos nossos presos e presas? Sinceramente eu duvido muito e não é por isso que não defendo sua REAL responsabilização) um massacre ainda maior de militantes. Isso ocorre no tal crime "organizado" porque não ocorreria com esse empresário organizado também com aquele setor de pensamento mais atrasado da sociedade brasileira, que não entende que reforma agrária é pauta capitalista(muitos países fizeram), e que ganhariam muito mais! O que creio que os lutadores do Brasil querem é muito mais que reforma agrária, querem um mundo onde os povos decidam pelo seu próprio destino e carreguem nas mãos a sua história, afinal são milhares de anos de dominação de pensamento e não só de corpos.
                   O MST e todos os movimentos organizados ou desorganizados mas de uma forma ou de outra propondo um mundo para além desse que vemos, pode propor uma sociedade onde Chafiks tenham suas propriedades abertas para desapropriação e verdadeiro uso, tenham seus bens retidos pelo Estado e no futuro geridos pelo povo, sejam "obrigados" a trabalhar, a entender como se ganha o pão que mata a fome do corpo. É necessário entender para muito além dos crimes do campo que devem ser feita justiça sempre! Mas é necessário sair pelas cidades, entender a multidão que já nela vive(os milhares de jovens assassinados com a mão do ESTADO!), é necessário lutar por uma cidade verdadeira e não mercadoria, assim como uma terra socializada! Temos muito mais a oferecer, se como diria Miriam Abou yd:" conseguimos questionar uma instituição como o manicômio e construir alternativas..."  além de também construir alternativas às cadeias, vide APACS, porque não podemos questionar a realidade do encarceramento e manter assassinos como esse sob nossa custódia? Num processo revolucionário pessoas como Chafik seriam mortas provavelmente e legitimamente, enquanto não chegamos lá ofereçamos aos nossos prisioneiros(prendamos Chafik se possível, mas não esqueçamos que tipo de sistema prisional temos para negros e pobres, condenados da terra como nos diz Fanon! Prendamos ele e soltemos todos os que estão presos injustamente pelo sistema então!) algo que o capitalismo não ofereceu! Somos melhores do que eles!

Pelo fim da concentração da terra, pelo fim da especulação imobiliária, pela responsabilização de todos os ruralistas assassinos brasileiros, pela democratização dos meios de comunicação! Pelo fim de prisões, manicômios e todo tipo de instituição total!




                                   






















* calar porque falo demais e ele teve a manha de me mandar para um acampamento com vários problemas internos e externos com a direção do MST!


terça-feira, 14 de maio de 2013

Escola de todo dia

A escola de todo dia
me dava
nos nervos
me fazia medo
me matava a criatividade
ou me dava alguma,
sempre pouca, oportunidade.

Todo dia na escola
era rotina
era tia
era dona
não tinha porque
se cumpria
regra
só tinha dever
do saber à tona!

A escola no dia a dia
era desassossego
uma nota alta
mas com pouco ego
ou alguma nota baixa
e um chute
no que no futuro
seria:
"eu quero"

A Escola para ser mais dia
devia ser muro abaixo
comida e laço
carinho, abraço
um poder falar
um brincar mais vezes
um ser criança
adolescer
e rejuvenescer
um fazer de conta
e, de verdade
aberta ao sonho
à realidade
seria muito mais
do que pode ser!





                                 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O traço do meu mapa

O mapa oficial da minha cidade
cabe apenas num papel,
mas o meu cabe no peito,
é feito de outro jeito
e o faço sem pincel!

O mapa do poder na minha cidade
é multicolorido
e o vermelho ganhou
desatrevido
tons de branco e azul,

porém o que guardo na memória
é um desenho da minha história
sem mentira e sem cartel

O mapa que eu faço
é de esperança,
tem que caber
velho, mulher e criança
e
se der,
um pedaço do céu!




                                                               



sábado, 11 de maio de 2013

Pelo direito de não ser mãe!


                                                  

                           É de admirar que em pleno dia das mães saia uma reflexão como essa e um título tão forte, ou tão cortante! Afinal, à primeira vista, ser mãe parece tão natural como comer, dormir, trabalhar. Bom, acho que não é! Talvez a excessiva obrigação capitalista de se realizar na maternidade obrigue as mulheres a se envergonharem de colocar publicamente o não desejo de ser mãe*. Já ouvi pessoas me dizerem:” Como não? Que absurdo! Toda mulher quer ser mãe! Isso é egoísmo seu!” Nessa hora lembro do meu irmão que fala pouco e fala o essencial, quando questionado sobre o jeito dele e sobre que desse jeito ele não amava, ele responde:” é por amor que eu faço tudo o que faço!” E aqui eu não me refiro à paternidade, ou se ele quer ou não ser, isso é da alçada dele, mas me refiro à reflexão sobre o amor e sobre o tudo que ele faz que se parece muito com o meu tudo.
                        Assim, a reflexão passa por esse amor aclamado nas propagandas, aclamado aos quatro cantos, como se amar fosse comprar coisas e não fazer uma ligação no meio do dia, no meio da rua e dizer:” Oi mãe! Como você está?” E ouvir dela coisas engraçadas, lamentações, dores e poder construir caminhos ali pelo telefone...
                     O amor foi aprisionado pelo medo, ouvi essa frase de Gerivaldo Neiva num seminário em BH, refleti muito sobre. Ou o medo é a moda nessa triste temporada de Zeca Baleiro. Esse medo todo de não poder ser algo diferente do que todo mundo é.
                    E voltando ao ser ou não ser mãe é necessário passar pelo fato de, o sendo sem querer, por acidente, tentar deixar de sê-lo**. Sim, deixar de ser mãe quando se torna sem querer. E aqui a forte presença desse amor capitalista é impressionante! Chego a me lembrar de um pastor famoso num canal aberto de TV dizendo sobre isso e achando-se no direito de definir o que as mulheres devem ou não fazer com argumentos de amor...mais impressionante foi a entrevistadora titubear diante das fajutas argumentações.
                Não é esse amor que me move, não é esse amor que faz com que milhões de mulheres morram em clínicas clandestinas, esse amor que obriga milhões de mulheres a se violentarem, ou a serem violentadas. O amor que mostra caminhos a essa realidade não é aquele que acha que se devam matar os filhos do submundo***, não! É o amor que quer construir um espaço onde elas possam dizer sobre o que querem e se quiserem ter o direito de dizer não, e claro, quando se pode dizer do que se quer, pode-se mudar de ideia não é? Pode-se construir caminhos e talvez tornar-se com a ajuda de outros e com os direitos garantidos uma mãe, por quê não? Mas é preciso garantir esses direitos historicamente violados!
              É por amor ao mundo que muita gente não quer ser mãe e nem pai! Há caminhos diferentes para cada um, e existem pessoas que não cabem mesmo nesse mundo! Existem pessoas que lutam para que não existam pessoas como elas no mundo. Como os zapatistas que dizem: “somos soldados que querem que os soldados não mais existam”. É preciso enxergar possibilidades, é preciso ultrapassar o corriqueiro, calar o excesso e descobrir o essencial.
                 Pelo direito de ser alguma coisa e não ser o que o outro definiu ser...








                  * aprendi com Tatiane Vinhal que conquistamos esse direito!

**Não me intitulo feminista, tenho respeito e acho extremamente necessário o movimento, mas minha fala não está inscrita nele, pois não tenho argumentos suficientes para fazer alusão à esta realidade.

                  ***o que a freira superiora do convento em que estive na juventude dizia contra o não ser mãe ou deixar de sê-lo


                                           








quarta-feira, 8 de maio de 2013

Encarceremos o Estado





Já que para encarcerar
Encarceremos o Estado!
O Estado instituição
O estado de coisas
O falso Estado de Direito!
Encarceramento em massa
Das mentiras!
Do medo!
Da ordem!

Se trancar resolve
Prendamos a força!
Fechemos em celas sujas
Os imóveis
Os inertes
Os comensais!

Se resolver punir
Que punamos os fortes
Que cerremos suas bocas!
Os que querem nos calar
E os que não nos querem ouvir!