quarta-feira, 23 de setembro de 2015
Meninos e meninas*
Estão dizimando meninos
ali no Pompéia ela me contou
agora no Caju ele me mostrou
Estão trucidando os meninos
jovens
pele e cor maioria preta
a vida escorrendo pela sarjeta
e nada que se possa declarar
Estão extinguindo os mais novos
não deixando seguir os povos
não há nada a esperar
Foram acertar as contas na quebrada
em nome do falecido delegado
mas a notícia que contam, o recado
a mídia não deixa passar
Sabe aquele arrastão?
Não foi gratuito
Sabe aquela moça branca da praia?
Aquele seu absurdo discurso, não é mito!
e não seremos ingênuos de paz sem vigor ficar
Estão apedrejando meninas
desfazendo suas infâncias
a adolescente ontem no teatro me ensinou
não tem nada normal
o que tem é violência e intolerância sexual
se o seu desejo é outro te desço ou enfio o pau
Estão tentando silenciar esses sonhos
amedrontar para sempre os nossos ganhos
mas palavra aqui não vai faltar
O medo que aquece a ignorância
e que faz virar ódio
nós detectamos
e viramos outros modos
porque só de morrer e ser silenciado nós não vamos mais deixar!
* este é para o Juan, menino vivo que conheci ontem vendendo bala no ônibus, 15 anos, corpo franzino, mora em Ibirité e trabalha desde muito menino, está estudando e guarda um sorriso.
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Revira e volta na cidade
Tem cultura na cidade
tem patrão
tem trabalhador
homem rico na cidade
tem peão, tem sova e dor
ainda tem pranto na cidade
tem pancada
soco e não tem flor
tem mentira na cidade
tem prefeito e outros que barganham
até o seu suor
tem polícia na cidade
pra quem ela vem tem cep, sinal e cor
tem dinheiro na cidade
dividido de mal a pior
tem política na cidade
claro, esta se faz com palavras que sabem de cor
tem cusparada na cidade
na cara de todo mundo
que a quer por si(pra ser) só
tem a graça da cidade
inaugurada em obras
em trovas
sem sol nem dó
a cidade é uma farsa
deixa livre o colarinho
não deixa soar cavaquinho
não explica
só existe para o maior
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