sábado, 2 de julho de 2022

Amizade Animalesca

 Um amigo meu, amigo desses que, você briga de verdade, assume as suas merdas, ouve as merdas dele, amigo de fé mesmo. Bem, esse meu amigo saiu de Belo Horizonte. Saiu para um trabalho numa cidade de São Paulo; não vou citar a cidade, nem mesmo o nome do amigo, embora ele, em seu coração generoso, me tenha permitido cronicizar sua história. Então, eu nem sei se o gênero crônica admite essa verbalização aí, mas se permitiram a Guimarães Rosa inventar palavras, que inventemos também nós! Mas vamos ao meu amigo, ele foi para esta cidade, e pela primeira vez, por volta de seus quase 30 anos, morando sozinho, deparou -se com todos os afazeres domésticos, coisas que ele já sabia fazer desde cedo( que maravilha de mãe pra ensinar isso pra um menino!), e também com todas as intempéries que uma habitação solitária traz.

Bom, eu desperto numa madrugada, como é de praxe em minha vida de quase sempre insone, e me deparo com uma mensagem no whatsapp, e uma foto de um gambá, mas não era um simples gambá. Um desses das histórias de familias do interior, ou dessas fotos de livros de geografia, ciências da escola. Era um gambá digno de um filme de terror! Soltei -lhe por mensagem um belo e ressonante:" Puta que pariu!" E ele me responde que o bendito animalzinho encarou-lhe olho no olho. Eu, em meio ao meu pânico, e também minha curiosidade, disse -lhe:" Eu entregaria as chaves da casa! Sinceramente, esse gambá é proprietário do imóvel!" Ele sorriu com meu medo, e eu, divagando entre o medo, mas também a muito interesse de porquê surgiu, no meio de uma cidade grande, um gambá com personalidade. Permiti-me deixar o pensamento saltar em viagens inimagináveis.

Afinal, os animais são mesmo os donos em primeira instância do mundo, nós lhes roubamos essa propriedade, e eles, genuinamente, nos causam esses sustos às vezes.