quarta-feira, 31 de julho de 2013

“Vira homi, porra!”* **

                                               

                                               



                               A expressão já me acompanha faz um tempo, afinal sendo mulher, ter os ouvidos atentos para expressões que colocam a mulher como ser inferior soa bem forte. Mas o debate aqui é sobre o homem mesmo, ou sobre o que dá, sendo mulher para entender do universo masculino...
                          É preciso ser homem, se mostrar homem, ter atitudes de homem, de macho, de viril, de dominador. Impressionante é pensar como esse ser homem, virar “homi porra”(!) está associado ao achar que ter essas características é portar-se de tal ou tal maneira, é esculachar quem não se porta, é tentar garantir um poder que se mantenha inalterado mesmo diante do medo, do fracasso, da culpa, da vergonha e da perda!
                      A vivência em ambientes quase que essencialmente masculinos me mostra o quão é importante prescindir da sociedade fálica e tentar entender por quê? Por quê é preciso virar homem? Como é ser homem? Chego a perguntar se é não chorar, se é estar o tempo todo armado(armado não de armas, talvez sim, mas em segurança, travado), o tempo todo pensando em possíveis ataques...
                   Vivi e vivo imersa em universo masculino toda a vida, afinal somente a mãe, e dois irmãos e um pai já mostram a diferença nos formatos. Costumava dizer tenho dois irmãos, um pai e uma mãe no estilo paraíba masculino! Naquilo que tem de força nisso, de autenticidade e não de sobreposição de poderes. Minha casa nunca foi um paraíso, (ainda bem!), como nossa sociedade gosta de vender, mas sempre tentaram, no caso meus pais, fazer acordos. Os castigos(a gente nunca foi agredido) era decididos à portas fechadas. KKK! Era fazer uma merda e à noite a porta fechava e era a reunião dos dois para decidir do que seríamos privados. E, sinceramente, mesmo com pouca formação acadêmica, esses dois sabiam mesmo castigar! Eles foram surrados na infância e não fizeram isso com a gente. Os castigos eram: uma semana ou um mês sem TV, dependia da gravidade da travessura. Ou um mês sem andar de bicicleta na rua(isso doía como um punhalada!). E era assim todo mundo se castigava junto e aí se ninguém via TV(eles não ligavam! Doido demais!) todo mundo ficava batendo papo e haja oralidade na veia dos filhos!(kkk).
                  Fico imaginando como se perdeu essa necessidade de não “virar homi” mas virar gente! É importante entender o termo no sentido da homofobia, do machismo e também do crucial que é entender que é para ser homem que muitos se colocam em risco, para tentar provar que o homem que o abandonou(quantos são os sem pai nas escolas, nas unidades socioeducativas, nas cadeias, nos manicômios, nas ruas?) não faz falta, ou fazendo e não se admitindo ele vai ver que um outro homem se formou em sua ausência.
              Essa figura do homem que acha que pra ser homem deve espancar, em casa sendo pai, na rua sendo polícia, ou exercendo qualquer lugar de poder em que subjuga homens, meninos, mulheres e meninas, essa figura é abominável.
              Acho que é preciso além desse “homi” que machuca, maltrata, entender que há “muié” que também faz isso, lembro-me de uma música apresenta a mim por um amigo rapper, uma música do Facção Central, um filho que conversa com uma mãe que o espancou.  Precisamos entender o local da falta do trabalho, ou do trabalho precarizado, precisamos ver para onde foram esses homens, em busca de que, exilados pela realidade capitalista. Há que se buscar saídas para ser homem, mulher, menino, menina, de qualquer orientação sexual, com um jeito peculiar cada um, porque se for só pra “virar homi” a gente continuará numa perda incansável de seres numa vala que não tem volta. Ainda há esperança, com todo ser com qualquer gênero...



*fala de menino que voltava de uma brincadeira de empinar papagaio no bairro Viena em Ribeirão das Neves.


** para meu pai e minha mãe e as pedagogas Tamy e Pink do CEIP Dom Bosco, unidade provisória de internação e adolescentes em BH.




                                           


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Apresentando a palavra


Eu apresento a palavra
torta
suja
ignorante e vesga

murcha
podre
intolerante às vezes

mas possível
dura
cintilante
e quente

carinhosa
pungente
esquizofrênica
e picante

lúdica
módica
exuberante
esquálida

curta
grossa
excitante
inválida

pobre
forte
assustadora
e pálida!

palavra de ventre
mobilizada por ventríloquo
surda
muda e que potente
sábia!



                                                 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Quereres

Eu quero a agonia
do capital monopolista

A queda dos bancos

O fim das corporações

A derrocada do dinheiro

E com todos eles a morte do ESTADO.



                                         

domingo, 14 de julho de 2013

O amor repartido




Há uma parte do amor que é verdade
Há outra que é desejo
Uma parte dele é saudade
A outra é beijo
Uma parte do amor é abraço
A outra é encontro e segredo
Uma parte do amor é paixão

A outra é uma morte e um doce sabor, um lampejo.



sexta-feira, 12 de julho de 2013

Menina-Mulher*


Uma amiga diria um quarto de século
e outra: ela tem muito a dizer
menina e mulher

se a gente olha para as três
é possível ler
olhos fechados
pra sorrir

e de menina se tem o traço do rosto
e de mulher
tem a marca da vida

a mulher que vejo nelas
é menina
adolescente
mas é forte!

menina e mulher!

porque se fosse só uma
nada a ver!
se fosse mais para um que de outro
seria mãe
por outro cuidadora da saúde
e por fim da palavra
a letra(Letras) M-E-N-I-N-A
M-Ã-E
e MULHER!


*para a Bel que completa 25 primaveras, para a Tati mãe e mulher que me fala da idade e do quarto de séculos e para Carine que diz quando eu digo:" A Bel fala pouco em público, ela deveria falar mais!" Carine: "É ela tem muito a dizer..."



                 


quinta-feira, 4 de julho de 2013

A palavra, o pixo, a marca e o risco

                                      

                     Qualquer fala que tentasse se aproximar de uma relação ou referência à pixação teria que começar com transgressão. Começo já vendo que a palavra pixação para o computador está escrita errada e ele me marca de vermelho, corrigindo o x pelo ch. Eu insisto! Se me marca, e começar frase em português com pronome também é transgressão à gramática, eu deixo lá, porque não me interessa as regras gramaticais. Agradeço! Graças a deus, ou à vida eu consigo sobreviver sem entendê-las e, mesmo com a formação acadêmica, dita:”superior”( essa realidade insuperior da universidade!) me digno a não dizer mais nada ao equipamento. Seguimos transgredindo...
                  Fiquei mesmo imaginando durante as falas, diga-se de passagem, todas impressionantes(!!!), no evento “Juventude e Pixação”, se os pixadores estariam mesmo interessados ou até mesmo quisessem mesmo que aquilo ocorresse. Ao mesmo tempo, me regozijava com a fala de Lora, estudante, mãe e pixadora, num recortar de rimas que a identidade dá. Fiquei pensando se uma fala acerca da emoção e do calor que me subia durante cada gesto, cada olhar e cada palavra. Pensei na possibilidade de pegar o microfone e falar, pensei também no tanto que falo e por fim em escrever. Talvez fazer uma poesia, escrever uma crônica, mas qualquer referência ao dito não caberia nem mesmo na liberdade que a arte pode dar e, seria eu uma artista da palavra?
             Ainda assim insisto em dizer sobre a paixão do pixador ou pixadora ao encontrar a possibilidade de sua marca ficar ali, “seu risco que corre e o correr do risco”* passando para a parede aquilo de que coração e cabeça andam cheios! E transborda! Algo que a palavra, na formalidade gramatical não pode dar vazão! E é preciso inventar, artisticamente, ou toscamente, porque sinceramente eu acho que eles não estão nem aí! Nem com isso preocupados, em classificar, se é arte ou não FODA-SE, ou melhor FODAS! Acho que se eles tem alguma preocupação talvez seja a do rolé, rolê(?) dar certo, e certo é não rodar, não cair na mão de policial que só entende o pixo através da violência ao corpo e não através da voz, um medo talvez atroz, mas talvez que motive, de não ser morto por um dono de muro do lado de fora(PQP! Eles querem mandar no lado de fora! Por isso já escolhi meu lado, o de fora!). É fácil, ser da lei e bater em menino na rua, e pixar a cara dele, e fazer medo e ameaçar! Difícil é criar um código só seu, é subir em parede que ninguém tem coragem, é viver uma vida de cão, ou não, mas ter coragem de botar no muro não nos outros o que o corpo tá cheio! E vaza!
            Assim, qualquer palavra que tente explicar um traço, um risco daria vertente para um arriscado contorno que a gente não conhece, mas que fascina e por isso a gente também se torna pixador ou pixadora e é recebido com uma doçura nos espaços deles, e é aceito com as limitações do corpo que não sobe em paredes, mas se arrisca nos banheiros da universidade, em prefeituras, ou etc para não dar aos perseguidores tantas pistas, e vai tentando pixar um lero-lero ou começando a criar um código noutra língua, numa língua não mais falada, ou vendo que até analfabeto pode pixar e inscrever na real sua ideia! Aprende que pichador é simples e complexo, que teve um que matava aula pra ler nada menos que Zaratustra! Que é novinho, quase menino e é velho, talvez na idade mas nunca na disposição! Que pichadores não tem preconceito. É muro limpo, sujo, a maioria os abandonados! Mas que se esvai traçando na cidade um sinal, uma senha. Pode-se achá-los, um dia sim, se for sorrateiro, mas não pra puni-los mais que a realidade já o faz...
Sigo acreditando na palavra escrita ou falada, no pixo que insiste em sobreviver, mesmo matando ora pela fatalidade ora pela crueldade, na marca necessária a uma vida desmarcada e no risco que nós teremos que correr sempre, pois pra viver é preciso arriscar e olhar para o além que é o ser!


*Fala de Rogério Bettoni




                                           
















quarta-feira, 3 de julho de 2013

Cadeia

Ela é feia, ou até bonita
mas é cadeia
e desse modo escrita
me aperreia!

Ela é fria
mas também me aceita
com meu calor rebelde
com minha boca quente*
e com uma palavra (in)certa

Ela é escura
e na sua vala
a desembocadura
é maioria pobre, homem
jovem
e preta

mas ela é possibilidade
pois se uma sociedade
não abre dela a porta
o provável
é o fel
sem mel
sem futuro
sem vida que incendeia.


* boca quente: língua solta, sincera...


                                   

terça-feira, 2 de julho de 2013

Opressões e formatos



O canal onde passa minha palavra está estupido
pela opressão da gramática.
O prego que tento enfiar na parede do verbo
não encontra martelo que o finque.
O som que eu tento tirar de uma lira imaginária
só respeita partitura.
Só o que me resta é pixar
as paredes
inventar novos códigos
pra acabar com essa forma formatada
de ditadura.