quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A poética do ato

Poesia não é só alegria
poesia é coragem
navalha na carne
o real mostrado em verso

Poesia é enfrentar o poder
dizer entrelinhas
que se votam contra o povo
o povo votou
colocou
e se faz tudo ao contrário dos direitos do povo

Mas poesia também é discurso
é enfiar a cara na luta
queimar a mentira em chamas de borracha
é tomar borrachada de agentes do Estado Democrático de Direito
é gás de pimenta que tempera a safadeza dos de cima

Poesia é luta de classes
é destemperar-se
enlouquecer
desnortear o norte dominante
salto e lançar-se no abismo do não-poder
de um poder sem culpa
de um saber diferente
de uma roda de conversa
de conflitos nossos
que nós resolvemos!!!!

Poesia é espirituosa
mas pode ser sangramento de perdas
pode ser superação
pode vislumbrar novos que
a direita estremece
o centro enfraquece
e a esquerda não se coloca!

Poesia é um clamor
mas também é ato
Retira o que conquistamos
recuperaremos no braço!










segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O fogo necessário

Brigadas podem apagar fogo
Mas podem, também, serem incendiadas
A luta que é feita por um povo
Por você não pode ser apropriada
O luto do preso
Da mãe na fila
Da filha estuprada
Por você não vai ser oportunizada
Socialismo?
Liberdade?
Muitos e Muitas de nós
Não estão enganados
NEM ENGANADAS!!!!






sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Metapoema anti-machismo




Existe o machismo-absurdo
O machismo-solteiro
O machismo-altaneiro
O machismo-libertário
E o machismo-operacional
Também o machismo-chefe
O machismo-cheque
O machismo-pai
O machismo-irmão, marido, namorado
O machismo-amor fatal
Ora aparece o machismo-infame
O machismo-modus operandi
O machismo-surto
E o machismo-ambulatorial
Outras vezes atacam o machismo-culto
O machismo-insulto
E CLARO, o machismo-intelectual!
Muitas, milhares de vezes o machismo-estupro
O machismo-amigo
O machismo-enternado
E o machismo-sexual
Sempre é preciso lutar
Contra todo machismo
Tem machismo-clínico
Machismo-psiquiátrico
Machismo-psicanalítico
O machismo-POLÍTICO
Machismo-ocupacional
O machismo-exploração trabalho
O machismo-operário
O machismo-telemarketing
E o machismo-profissional liberal
Tem machismo-professor
Machismo-zombador
Machismo-sutil
Machismo-comédia
Machismo-épico, trágico, ESTRUTURAL!
A mulher aprende a entender de machismo
Operando a rima
Destituindo a sina!
Saindo do patriarcado
Do capitalismo
E do poder secular homem fálico razão-emocional






quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O sur(S)to!

vai aparecer como um surto
vai alucinar todo mundo
não vai dar tempo para pensar
vai ser ou sim ou não
de que lado você vai ficar?

vai acontecer de súbito
vai ser o nosso insulto
não vai ter pena
nem espera

a hipocrisia
não vai ser mais a vera

vai desbancar filosofia
vai desequilibrar teorias

o que vem de baixo não assim se opera
não joga o seu joguinho
não pondera

vai ser explosão
vai ser terremoto
terrorismo no seu sonho sólido

o que achavas certo desmanchará
o que tinha como certo
infalível
desmoronará!



terça-feira, 23 de agosto de 2016

Um rio vermelho



Há um rio vermelho dentro da gente
Estanque esse rio nos mata
Em movimento leva a essência da vida
Há uma água encarnada ou púrpura
Por sempre na gente
Esse líquido viscoso
Escorrido por cortes
Vazando por balas que explodem
Há uma força que emana
Quando somos a gente
Nas veias
Nas linfas, se veneno ou líquido-vida
Absurdo obscuro
Se ser quem é a gente

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Tem gente que vai muito cedo

Tem gente que decide ir embora muito cedo
tem gente que não vive uma vida simples
uma vida sem viço
uma vida viciada em viver

Tem gente que vive tanto a própria vida
que não pode ficar por muito tempo
Há tanta vida na vida de algumas pessoas
que o tempo vira elástico!

Nenhuma palavra explica a vivência
de quem vive com inocência
mas com força e com graça!

Há um tipo de pessoa
que só com poesia se fala de sua vida
é um viver de uma forma tão enriquecida
que o vocabulário nos falta

A falta da pessoa se renova em memória
em imagem!
em muita vida encolhida em pouco tempo
porque nós que ficamos
sem muita escolha
contaremos histórias dessa sua vida





sábado, 30 de julho de 2016

Poesia quase a dois


Assim como se estivesse num quarto escuro
Com medo da luz chegar
Como se ansiasse pelo momento
Mas estivesse apavorado
Com sua iminência
Como se a simples possibilidade
De ser feliz
lhe causasse pânico
ou fosse quase
o contra-senso de si mesmo




terça-feira, 26 de julho de 2016

O propósito de esquecer

Ou poderia chamar também esquecer de propósito!
Porque hoje eu resolvi esquecer propositadamente o celular em casa, esquecer as redes sociais logo após esse escrito, esquecer qual a regra ensinaram-se ou tentaram me ensinar na Letras e classificar isso aqui na teoria literária.
Resolvi faz tempo esquecer quem só atrasa a vida da gente, quem espera retorno mas se dá muito pouco. Resolvi esquecer o regramento social faz tempo e falar palavrão, até em lugares onde as pessoas, familiares ou amigos, não os possa suportar.
Esquecer das mentiras que me contaram e das que contei, talvez teriam sido poucas e a troa foi injusta.
Quero esquecer o que causa tanta angústia, andar ali na rua, comprei um pão e algo para beber; e mais tarde, passada uma tarefa de trabalho/pesquisa permitirei tomar uma cerveja e esquecer que demorei mais de seis horas para conseguir chegar na cidade que moro, lembrando que da cidade que venho até ela, geralmente se gasta uma hora e meia nas caronas solidárias por um preço mais baixo, mas houve um cara nada solidário que, tentando enganar-se com um engarrafamento inexistente deixou-me esperando por ele duas horas e meia. Agora boba que não sou deixei-o também, mas não tão propositadamente(acabou a bateria do celular) e fui noutra carona ainda mais solidária!
Quero esquecer que a vida passa depressa, e ir indo, aproveitando o que dá.
Com o propósito de esquecer eu falo em uma sessão semanal de psicanálise e nesses retornos e esquecimentos vou lembrando que em anos de luta, em décadas de estudos, acadêmicos ou não, nunca tive agenda para me lembrar de nada, e nunca esqueci de nenhum compromisso, se isso não é adoecimento o que seria? Por isso tratar de(para!) esquecer.

Esquecer é a meta do cérebro para proporcionar saúde mental, lembrar pode ser perigoso. Esquecer é não precisar mais elocubrar, não mais divagar coisas que podem mais retroceder e menos avançar.

A única coisa que não pretendo esquecer é a condição de classe e o tipo de sociedade que AINDA, ainda vivo, em breve ou não, nas lutas para esquecê-la, construiremos outra.



terça-feira, 19 de julho de 2016

De época


Quando o vento de julho e agosto começa a cortar o céu vão subindo umas coisas coloridas, cheias de rabos, cheias de formatos, dos mais divertidos, dos mais criativos, parece que o tempo, a época da vida muda. O tempo já não é o mesmo do restante do ano, é tempo de olhar para o céu...
Teve um tempo que indo acompanhar minha mãe à casa de uma amiga, para um assunto bem doloroso, o neto dessa amiga dela saiu desarvorado de dentro de casa. Ela gritou:

“ Onde você pensa que vai menino?”

Ele:” Vou soltar papagaio*!”

Meu coração fez uma viagem longa à década de oitenta e diante daquela fala me dispus prontamente:

“ Deixa Marta eu vou com ele!”

Era impossível não ceder àquela frase:” Vou soltar papagaio!” Vinda, apenas de um menino de cinco anos! Como pode não passar pela cabeça de um pequeno que um carro pode matá-lo, que alguém pode roubá-lo, que ele pode tomar um choque com a linha nesses postes encrenqueiros da cidade?
Quem ia querer pensar em morte, medo, traumas diante de um possível vento, diante de um papel, recortado de forma geométrica, com um rabo, seguro por uma linha subindo aos céus? Só mesmo minha cabeça adulta ia fazer essa digressão disciplinada!
E lá nos fomos, mas era outra época, não era julho, nem agosto e não havia vento! Meu desejo se misturou ao de Gabriel e nem lembrei de avisá-lo que, sem vento, nada iria ao céu...talvez um avião...mas um papagaio não!
As pessoas cumprimentavam Gabriel: ”Oi!” Ele respondia olhando para o céu. Outros:” Onde você vai com esse papagaio menino?”
A nossa vontade era tanta que, só no momento em que eu segurava para que ele empinasse me lembrei:” Não vai subir! Não tem vento, não é a época!” Mas eu não disse nada, deixei que ele tentasse empinar, que corresse, que se desdobrasse...seria maldade minha? Creio que não! E lá se foi Gabriel! O papagaio soltou das minhas mãos e voou um pouco logo indo ao chão.
Ele me olhou um pouco decepcionado, estávamos longe, fui até ele e disse:” Não tem vento, não é a época ainda...”

Ele me olhou com olhos de quem sabe que a época vai chegar e disse:” Ah! Mas deixa chegar a época!”


Quase como um desafio, como uma esperança, e como alguém que, quando chegar a época estará preparado!




* em outros lugares do Brasil se diz pipa, e para achar no google a imagem só com "pipa",agora em Minas Gerais é papagaio!!







quinta-feira, 9 de junho de 2016

Dilemas de pesquisa

Eu quero a fonte
a regra
o ponto
a edição
e o método!

Eu não
eu quero a vida
o sentimento
o vivido
a a história e a sina

Eu quero a nota de rodapé
as referências
dados, análises
argumentação!

Eu?
Quero o amor
a sensatez
a escassez e a sobra
A Revolução!

domingo, 5 de junho de 2016

Problemas de (da)Pesquisa

Eu quero problematizar na metodologia
Falar do método na introdução
perguntar no título
colocar a hipótese objetivada

Eu quero pesquisar enquanto amo
amar quando entrevisto
teorizar enquanto grito

minha orientação é o desacerto
os erros de conteúdo estão nas teses
e não na realidade

se pesquiso sem viver
se vivo sem entender
minha imersão acadêmica é frouxa
minha intenção teórica é um engodo
e minha vida não faz sentido!

É na poética que me encontro
a palavra silêncio é a possibilidade





                                 

domingo, 29 de maio de 2016

Premonição feminina


Quando eles menos esperarem seremos muito mais que 33
seremos milhares, milhões!
seremos todas armadas
de vozes,de cantos, de pedras
de ouvidos, de sinais, de pólvora!

A luta das mulheres é ainda mais necessária
quando se assustarem
os filhos não serão os mesmos
as filhas não aceitarão de novo
serão muitas mães enfurecidas
ensinando o diferente
promovendo novas gentes
novas formas
sem morte
sem violações
sem corpos deflagrados

Quando abrirem os olhos
será um multidão feminina
serão gritos de "Não mais"
e não mais vai acontecer a opressão

Quando os ouvidos atentos
ora dispersos
negligentes
indiferentes
escutarem
já será tarde patriarcado!
Já não será possível capital preparado
nós seremos as novas propostas!


Quando se acharem confortáveis
em suas casas
em seus clubes
nas negociatas
nas vendas dos nossos corpos
já não será mais possível
não estaremos mais no campo disponível
a força/ fúria feminina já não será mais vencida.

















sábado, 23 de abril de 2016

Fatos


Fatos
Fartos
criam fontes
números
fontes
dados exatos

a dúvida
não existe
quando é poder almejado
claro
clárido
criamos palavras
eles
conceitos!
tem mídia
contatos

perversidades
sádicos
a verdade é invertida
no que não se investiga
tato...

sexta-feira, 1 de abril de 2016

o limiar da poesia

O limiar da vida
é o limiar da poesia

de onde nasce a prosa
não nasce a fantasia

o que pode o real?
só heresia!

O conhecer verbal
alegria

Os seres cognitivos
mais perdidos
muito ofendidos
por linguagens
por sabedorias

não se faz nada com conceitos!
pura hipocrisia!

quarta-feira, 16 de março de 2016

O drama das bananas

Na República das bananas
a canetada resolve os dramas

O açoite vai pra preto
a mistura 
de política, jogo e fama

A Polícia não pergunta na favela
ali não tem choro
nem quem chama

Na República a coisa é diferente
pede um café
e esconde o que trama!





                                    

terça-feira, 8 de março de 2016

Descobre

ando descobrindo a madrugada
o escuro
as noites
a solidão e o silêncio

ando caminhando sozinha
e nessa nova cidade
eu encontro gente
um bom dia
um sorriso a cada passo
um "Oi"
e os lindos e gentis "obrigados"

as cidades reservam do caos
até a gentileza

na delicadeza de umas montanhas que nos cercam
também tem um certo trânsito
mas tem poder ir à pé
isso é um louco preço do ser/estar na cidade pequena

a cidade te surpreende
ela não se parece mais
com aquilo que esperavas
ela te mostra que é possível

na solidão da novidade
cabe descobertas
soluções que nem supunhas

a cidade é um mistério

descobre







sexta-feira, 4 de março de 2016

Este homem


Porque o chamavam homem
e homem de ferro
um "homi" do sertão
pra quê um homem sem um mundo?
pra quem uma história sem chão?

Esse lance de trabalho
esse ranço de memória
um lançamento operário
uma luta na história

essa gente do metal
essa gente do ferro
essa garra de homens
mulheres e concreto

ABC trabalhador
sai de casa e escuta sinal
bate ponto
fabrica carro
mas na vida é labuta e tal

Quando não dá mais
sindicaliza
fala alto, se organiza
grita forte
o patrão só nos fadiga
é mortal!

mas faz como?
não paga conta se faz greve!
e pra quê isso pra nós serve?
pra onde vai nosso ideal?

corre, panfleta
megafone e sirene
foge da vida dura
e da PM
essa é a vida laboral

ganha fama
vira diretor sabido
mas vê que tem mais camarada oprimido
sabe do poder patronal

segura
coloca-se em perigo
não encontra em nada abrigo
sua mudança é total

a mais-valia rouba a vida
rouba ser
toma o tempo e o brilho
isso não tem nada de normal

mas é tanto o que entender
é tanto o que fazer
não tem tempo descomunal

camaradas em frente!
Bora ser mais gente
Bora derrubar o capital!

Não consegue isso portanto
não faz jus ao antigo encanto
mas quer do país ser mais igual

o olho do poder o cega
parece ter pra essa vida pública
uma pega
vira constitucional

no poder envolvido
e não mais saído
afastando do dia a dia sofrido
não tem perdão esse erro fatal

politicamente falando
midiaticamente culpando
vai entrando no penal

mas a pergunta que fica é a mesma
para quê tanta luta
pra quê tanta fala firmeza
se agora não tem como ser igual?



























quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Amor não (des)cartável

eu cato os cacos
mas não os deposito simplesmente
das pessoas que por mim passam
eu nunca deixo que vão por completo
e eu, sempre incompleta, tento preencher alguns vazios dos dos outros
amo palavras quebradas
sonhos
e aquela lucidez que te esbugalha os olhos no sexo
ou naquilo novo que tu vês
e que ninguém viu!
como uma criança
eu acho tudo novo
não consigo terminar muita coisa
porque estamos sempre caminhando
estamos sempre em possíveis projetos
mas os humanos são seres sem possibilidades
essa racionalidade
esse pé na estrada
ou esse escritório oito horas por dia!
pra quê?
o amor não pede formulários
nem data marcada
não se(me) descarte
mas a vida capital
escolhe as baixas que vai dar em sua
ou na vida dos descartáveis...






sábado, 6 de fevereiro de 2016

Menos um, mais nós

Não esperem de mim o sorriso
a palavra adocicada
a poesia simples
meu canto é de ódio
ódio de classes
ódio ensanguentado pela injustiça
Nem esperem o verbo longo e descritivo
minha palavra é curta sim! é grossa
um camarada tomba
uma bala na cabeça
uma emboscada
uma traição
somos traídos todo dia pelo patrão
somos embocados nas cadeias, nos manicômios
e até nas escolas
o chão das fábricas, mesmo que pós-modernas,
ainda nos coisificam
e ainda, em pleno século 21,
nos cobram vírgulas nos enfrentamentos
aspas nos eufemismos
menos tinta nas palavras!
Não me peçam que refresque vossa memória
um de nós foi dizimado
muitos de nós todos os dias!
O que nós continuaremos
é atirar(tirar!) contra vós
nossas palavras
nossas liberdades
nossas utopias cercadas de alguma verdade
Nós somos loucos
e os loucos sempre dizem da razão abalada