Eu conheço Walter Salles pessoalmente! Sim, eu vou dar essa carteirada nesse início de crônica-conto sobre o filme dele: " Ainda estou aqui". O filme é um recado, uma carta, um manifesto! Uma oportunidade de memória, de verdade, de reencontro...
Eu falo por volta de uma hora e meia depois que vi o filme. E a decisão de falar assim no calor do momento é proposital, racional e emocional!
O que é uma mãe com cinco filhos ainda por criar, perdendo o marido para um terror instalado no seu país de origem? O que faz uma mãe diante de tanta calamidade social, política e pessoal? Eunice escolhe sorrir, agir, estudar e não retroceder.
Sob pena de dar sinais do que é o filme e retirar o sabor do inusitado, sinto-me confortável, se é que ver um filme sobre ditadura civil-militar pode dar algum conforto; mas me sinto à vontade para isso, para dizer que já me sentei num mesmo auditório que Walter Salles, na Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, e o vi falar sobre outro filme dele, também imprescindível, o " Linha de Passe"!
Essa caminhada que tão fundamentais atores, atrizes, tão potente diretor, e um roteiro que só a inspiração de Marcelo Rubens Paiva poderia proporcionar é uma caminhada avassaladora de descobertas, de renovação do nosso desejo de luta e, principalmente, para mim, que sou nada diante desse universo que é essa militância pela memória, de respeito pela história de quem veio antes!
Estamos aqui, sorrindo, resistindo, tendo humor como o Rubens Paiva, revolucionando esse país tão cheio de violência, de ditaduras grandes ou pequenas, de terrorismo de Estado nas periferias. E nós, que seguimos vivos, seguimos brandando, gritando e esperando pelas certidões de óbitos, pelo reconhecimento da barbárie e pela memória viva de todos e todas que partiram por querer um mundo sem tiranos.
Seguimos aqui, Eunice! Com Você, com Marielle, com Cláudia, Amarildo, cada jovem e mãe periférica desse país, cada trabalhador. Insistimos em sorrir como você.
Obrigada!