A expressão já me
acompanha faz um tempo, afinal sendo mulher, ter os ouvidos atentos para
expressões que colocam a mulher como ser inferior soa bem forte. Mas o debate
aqui é sobre o homem mesmo, ou sobre o que dá, sendo mulher para entender do
universo masculino...
É preciso ser homem, se mostrar homem, ter atitudes de homem, de macho,
de viril, de dominador. Impressionante é pensar como esse ser homem, virar “homi
porra”(!) está associado ao achar que ter essas características é portar-se de
tal ou tal maneira, é esculachar quem não se porta, é tentar garantir um poder
que se mantenha inalterado mesmo diante do medo, do fracasso, da culpa, da
vergonha e da perda!
A vivência em ambientes quase que essencialmente masculinos me mostra o
quão é importante prescindir da sociedade fálica e tentar entender por quê? Por
quê é preciso virar homem? Como é ser homem? Chego a perguntar se é não chorar,
se é estar o tempo todo armado(armado não de armas, talvez sim, mas em
segurança, travado), o tempo todo pensando em possíveis ataques...
Vivi e vivo imersa em universo masculino toda a vida, afinal somente a
mãe, e dois irmãos e um pai já mostram a diferença nos formatos. Costumava
dizer tenho dois irmãos, um pai e uma mãe no estilo paraíba masculino! Naquilo
que tem de força nisso, de autenticidade e não de sobreposição de poderes.
Minha casa nunca foi um paraíso, (ainda bem!), como nossa sociedade gosta de
vender, mas sempre tentaram, no caso meus pais, fazer acordos. Os castigos(a
gente nunca foi agredido) era decididos à portas fechadas. KKK! Era fazer uma
merda e à noite a porta fechava e era a reunião dos dois para decidir do que
seríamos privados. E, sinceramente, mesmo com pouca formação acadêmica, esses
dois sabiam mesmo castigar! Eles foram surrados na infância e não fizeram isso
com a gente. Os castigos eram: uma semana ou um mês sem TV, dependia da
gravidade da travessura. Ou um mês sem andar de bicicleta na rua(isso doía como
um punhalada!). E era assim todo mundo se castigava junto e aí se ninguém via
TV(eles não ligavam! Doido demais!) todo mundo ficava batendo papo e haja
oralidade na veia dos filhos!(kkk).
Fico
imaginando como se perdeu essa necessidade de não “virar homi” mas virar gente!
É importante entender o termo no sentido da homofobia, do machismo e também do
crucial que é entender que é para ser homem que muitos se colocam em risco,
para tentar provar que o homem que o abandonou(quantos são os sem pai nas
escolas, nas unidades socioeducativas, nas cadeias, nos manicômios, nas ruas?)
não faz falta, ou fazendo e não se admitindo ele vai ver que um outro homem se
formou em sua ausência.
Essa figura
do homem que acha que pra ser homem deve espancar, em casa sendo pai, na rua
sendo polícia, ou exercendo qualquer lugar de poder em que subjuga homens,
meninos, mulheres e meninas, essa figura é abominável.
Acho que
é preciso além desse “homi” que machuca, maltrata, entender que há “muié” que
também faz isso, lembro-me de uma música apresenta a mim por um amigo rapper,
uma música do Facção Central, um filho que conversa com uma mãe que o espancou.
Precisamos entender o local da falta do
trabalho, ou do trabalho precarizado, precisamos ver para onde foram esses
homens, em busca de que, exilados pela realidade capitalista. Há que se buscar
saídas para ser homem, mulher, menino, menina, de qualquer orientação sexual,
com um jeito peculiar cada um, porque se for só pra “virar homi” a gente
continuará numa perda incansável de seres numa vala que não tem volta. Ainda há
esperança, com todo ser com qualquer gênero...
*fala de menino que voltava de uma brincadeira de empinar
papagaio no bairro Viena em Ribeirão das Neves.
** para meu pai e minha mãe e as pedagogas Tamy e Pink do
CEIP Dom Bosco, unidade provisória de internação e adolescentes em BH.
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