quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
O silêncio das balas
Tem gente sem coragem demais
não brinca com palavras
tem gente corajosa demais
brinca com armas!
eu cá já prefiro me armar de verbos
ora intransitivos
ora transitando no meio dos absurdos
das mortes banalizadas
numa maré* alta de poucas possibilidades
tem seres tão incapazes de mediar um terror
com palavra
que insistem na bala!
E ao insistir só com projéteis
não projetam nenhuma possibilidade
somente mesmo a bala!
A bala que explode
a bala que mata
a bala que sangra!
Ao invés de se armar de termos, terminando a guerra
conjunções adversativas caracterizando outras formas
preferem o gozo da morte
uma morte marcada
uma cor de pele repetida!
Assim, essa gente não acredita que tem outra vida
que existe outra sina
outro carma
novas medidas
Eu, fico ainda com a palavra!
Eu fico ainda com a ferida
mas não espere de mim só a paz desarmada!
eu não sou só dessa guerra desmedida
mas também não fico para sempre silenciada!
* para os corajosos moradores da Favela da Maré armados de palavras!
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