quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Eu não vou esquecer


                        Nunca vou esquecer do meu pai passando na sala e me vendo assistir Linha de Montagem e dizer:” essa é a greve dos metalúrgicos né?” eu:” sim Pai!” Ele: “eu fiz também”
                      Não vou esquecer do Lula nesse mesmo filme dizendo: “O que nós trabalhadores precisamos fazer é mudar a relação capital x trabalho e isso só faremos com organização política!” Mas também não esqueço do Lula que disse:” eu não sabia!” Também nunca vou esquecer do Governo Tucano em MG, nem das várias passeatas dos professores do nosso Estado em 2011 e 2012 e dos meus colegas de categoria perguntando:’ em qual escola cê trabalha?” Eu: “nenhuma” Eles:” uai? Mas você tá aqui por quê?” Eu: “porque eu sou professora também!” Nem vou esquecer da Assembleia Legislativa de MG lotada de milhares deles quando a presidente do Sind Ute depois de um cenário radicalizado de greve no Estado, decidem pelo fim da greve e Anastasia continua sem pagar o piso salarial da categoria mesmo com decisão do STF! Não eu não vou esquecer!
                    Nunca vou esquecer que eu saí da Beira Linha “despejada” no fim da gestão Patrus Ananias para a urbanização conservadora na cidade de BH que depois culminaria no programa Vila Viva nos anos 2000( Viva?), política embarcada por PSDB, parte do PT e o escroto PSB( confere produção?).
                 Não esquecerei das ocupações urbanas que fiz, nem das do MST. Não vou esquecer que haviam petistas fervorosos nesse meio e nunca nenhum deles me fez crer, nem quiseram me convencer de nada acerca do partido. Não vou esquecer de Eldorado dos Carajás! NUNCA! É questão de ordem pra mim( mesmo agora desorganizada!), não esquecerei quem era o governador de lá, nem o presidente da república!
                Não quero esquecer quem era o presidente do Brasil quando as tropas do exército entraram na Rocinha, no Alemão e declararam guerra contra a pobreza! E declararam guerra ao país, à população!
                Nem de longe vou me esquecer do presidente que entrou no Aglomerado da Serra e disse com as obras do PAC:” vamos transformar esse lugar num lugar digno!” Sabia mesmo ele o que era ou é dignidade?
              Eu me nego a esquecer que faz quase nove anos que milito, com certeza desorganizadamente na maior e mais bonita luta de MG, uma luta que faz parte de um processo encabeçado por militantes e não militantes desse partido estranho, limitado, com potência, mas cheio de contradições que governa o Brasil desde 2003. A luta antimanicomial e suas projeções no nosso Estado só foi possível pela rua repleta de loucos, de vozes e delírios. Ela também foi possível dentro de setores do Estado, com vitórias garantidas por leis referendadas. Assim eu não posso me esquecer que há um lado importante da moeda nisso tudo e não posso me esquecer que ganhando o tucanato o que serão dos loucos, dos usuários de drogas, dos moradores de rua da minha cidade? De MG? Do Brasil? Pra eles só existem a privação e liberdade, a proibição do uso de drogas e as mentiras das comunidades terapêuticas. Embora é importante não esquecer e importante lembrar que há um vereador do PT em BH que foi homenageado por uma dessas comunidades que em sua maioria ganham dinheiro do Estado para violar direitos de usuários de drogas!
           Nunca posso esquecer que muitas garantias sociais, muitos direitos historicamente defendidos nas ruas desse país foram em parte reforçados por uma bancada desse partido que governa o Brasil. Não posso esquecer de Eduardo Suplicy( a esposa eu queria esquecer...mas...) nem de vários outros que prefiro não citar para não cair nas contradições. Não posso esquecer que muita gente passou a comer melhor, ir à escola, participar de um setor seleto da sociedade brasileira, como diria Guilherme Portugal em seminário na Escola Dom Helder Câmara:” vocês fazem parte desses poucos % dos brasileiros que estão nas Universidades!”
           Entretanto minha memória que me maltrata, mas me faz bem também (nem tudo é perfeito...) não me deixa esquecer do DOC Garapa de José Padilha! Importante ver que no Brasil muita gente nem chegou à modernidade quanto mais à pós modernidade( não é Zi Reis?)
          Assim é preciso não esquecer, o que foi feito, o que NÓS fazemos! Fazer é muito mais que apertar botões, se cada um sabe o que fazer com os próprios dedos, espero que não se deixem levar pelo gozo pessoal, ou pelo recalque! A história pede-nos mais que isso!
          Não tenho respostas, graças a deus( deus?) eu tenho perguntas e minha memória!

“ A memória é uma ilha de edição!”



                                     








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