Nunca vou esquecer do meu pai passando na sala e me vendo assistir Linha
de Montagem e dizer:” essa é a greve dos metalúrgicos né?” eu:” sim Pai!” Ele: “eu
fiz também”
Não vou esquecer do Lula nesse mesmo filme dizendo: “O que nós
trabalhadores precisamos fazer é mudar a relação capital x trabalho e isso só
faremos com organização política!” Mas também não esqueço do Lula que disse:”
eu não sabia!” Também nunca vou esquecer do Governo Tucano em MG, nem das
várias passeatas dos professores do nosso Estado em 2011 e 2012 e dos meus
colegas de categoria perguntando:’ em qual escola cê trabalha?” Eu: “nenhuma”
Eles:” uai? Mas você tá aqui por quê?” Eu: “porque eu sou professora também!”
Nem vou esquecer da Assembleia Legislativa de MG lotada de milhares deles
quando a presidente do Sind Ute depois de um cenário radicalizado de greve no Estado,
decidem pelo fim da greve e Anastasia continua sem pagar o piso salarial da
categoria mesmo com decisão do STF! Não eu não vou esquecer!
Nunca vou esquecer que eu saí da Beira Linha “despejada” no fim da
gestão Patrus Ananias para a urbanização conservadora na cidade de BH que
depois culminaria no programa Vila Viva nos anos 2000( Viva?), política
embarcada por PSDB, parte do PT e o escroto PSB( confere produção?).
Não esquecerei
das ocupações urbanas que fiz, nem das do MST. Não vou esquecer que haviam
petistas fervorosos nesse meio e nunca nenhum deles me fez crer, nem quiseram
me convencer de nada acerca do partido. Não vou esquecer de Eldorado dos Carajás!
NUNCA! É questão de ordem pra mim( mesmo agora desorganizada!), não esquecerei
quem era o governador de lá, nem o presidente da república!
Não
quero esquecer quem era o presidente do Brasil quando as tropas do exército
entraram na Rocinha, no Alemão e declararam guerra contra a pobreza! E
declararam guerra ao país, à população!
Nem de
longe vou me esquecer do presidente que entrou no Aglomerado da Serra e disse
com as obras do PAC:” vamos transformar esse lugar num lugar digno!” Sabia
mesmo ele o que era ou é dignidade?
Eu me
nego a esquecer que faz quase nove anos que milito, com certeza
desorganizadamente na maior e mais bonita luta de MG, uma luta que faz parte de
um processo encabeçado por militantes e não militantes desse partido estranho,
limitado, com potência, mas cheio de contradições que governa o Brasil desde
2003. A luta antimanicomial e suas projeções no nosso Estado só foi possível
pela rua repleta de loucos, de vozes e delírios. Ela também foi possível dentro
de setores do Estado, com vitórias garantidas por leis referendadas. Assim eu
não posso me esquecer que há um lado importante da moeda nisso tudo e não posso
me esquecer que ganhando o tucanato o que serão dos loucos, dos usuários de
drogas, dos moradores de rua da minha cidade? De MG? Do Brasil? Pra eles só
existem a privação e liberdade, a proibição do uso de drogas e as mentiras das
comunidades terapêuticas. Embora é importante não esquecer e importante lembrar
que há um vereador do PT em BH que foi homenageado por uma dessas comunidades
que em sua maioria ganham dinheiro do Estado para violar direitos de usuários
de drogas!
Nunca posso esquecer que muitas
garantias sociais, muitos direitos historicamente defendidos nas ruas desse
país foram em parte reforçados por uma bancada desse partido que governa o
Brasil. Não posso esquecer de Eduardo Suplicy( a esposa eu queria
esquecer...mas...) nem de vários outros que prefiro não citar para não cair nas
contradições. Não posso esquecer que muita gente passou a comer melhor, ir à
escola, participar de um setor seleto da sociedade brasileira, como diria Guilherme
Portugal em seminário na Escola Dom Helder Câmara:” vocês fazem parte desses
poucos % dos brasileiros que estão nas Universidades!”
Entretanto
minha memória que me maltrata, mas me faz bem também (nem tudo é perfeito...)
não me deixa esquecer do DOC Garapa de José Padilha! Importante ver que no
Brasil muita gente nem chegou à modernidade quanto mais à pós modernidade( não
é Zi Reis?)
Assim é
preciso não esquecer, o que foi feito, o que NÓS fazemos! Fazer é muito mais
que apertar botões, se cada um sabe o que fazer com os próprios dedos, espero
que não se deixem levar pelo gozo pessoal, ou pelo recalque! A história
pede-nos mais que isso!
Não tenho
respostas, graças a deus( deus?) eu tenho perguntas e minha memória!
“ A memória é uma ilha de edição!”
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