Quando o vento de julho e agosto
começa a cortar o céu vão subindo umas coisas coloridas, cheias de rabos,
cheias de formatos, dos mais divertidos, dos mais criativos, parece que o
tempo, a época da vida muda. O tempo já não é o mesmo do restante do ano, é
tempo de olhar para o céu...
Teve um tempo que indo acompanhar
minha mãe à casa de uma amiga, para um assunto bem doloroso, o neto dessa amiga
dela saiu desarvorado de dentro de casa. Ela gritou:
“ Onde você pensa que vai menino?”
Ele:” Vou soltar papagaio*!”
Meu coração fez uma viagem longa
à década de oitenta e diante daquela fala me dispus prontamente:
“ Deixa Marta eu vou com ele!”
Era impossível não ceder àquela
frase:” Vou soltar papagaio!” Vinda, apenas de um menino de cinco anos! Como
pode não passar pela cabeça de um pequeno que um carro pode matá-lo, que alguém
pode roubá-lo, que ele pode tomar um choque com a linha nesses postes
encrenqueiros da cidade?
Quem ia querer pensar em morte,
medo, traumas diante de um possível vento, diante de um papel, recortado de
forma geométrica, com um rabo, seguro por uma linha subindo aos céus? Só mesmo
minha cabeça adulta ia fazer essa digressão disciplinada!
E lá nos fomos, mas era outra
época, não era julho, nem agosto e não havia vento! Meu desejo se misturou ao
de Gabriel e nem lembrei de avisá-lo que, sem vento, nada iria ao céu...talvez
um avião...mas um papagaio não!
As pessoas cumprimentavam
Gabriel: ”Oi!” Ele respondia olhando para o céu. Outros:” Onde você vai com
esse papagaio menino?”
A nossa vontade era tanta que, só
no momento em que eu segurava para que ele empinasse me lembrei:” Não vai
subir! Não tem vento, não é a época!” Mas eu não disse nada, deixei que ele
tentasse empinar, que corresse, que se desdobrasse...seria maldade minha? Creio
que não! E lá se foi Gabriel! O papagaio soltou das minhas mãos e voou um pouco
logo indo ao chão.
Ele me olhou um pouco
decepcionado, estávamos longe, fui até ele e disse:” Não tem vento, não é a
época ainda...”
Ele me olhou com olhos de quem
sabe que a época vai chegar e disse:” Ah! Mas deixa chegar a época!”
Quase como um desafio, como uma
esperança, e como alguém que, quando chegar a época estará preparado!
* em outros lugares do Brasil se diz pipa, e para achar no google a imagem só com "pipa",agora em Minas Gerais é papagaio!!