terça-feira, 19 de julho de 2016

De época


Quando o vento de julho e agosto começa a cortar o céu vão subindo umas coisas coloridas, cheias de rabos, cheias de formatos, dos mais divertidos, dos mais criativos, parece que o tempo, a época da vida muda. O tempo já não é o mesmo do restante do ano, é tempo de olhar para o céu...
Teve um tempo que indo acompanhar minha mãe à casa de uma amiga, para um assunto bem doloroso, o neto dessa amiga dela saiu desarvorado de dentro de casa. Ela gritou:

“ Onde você pensa que vai menino?”

Ele:” Vou soltar papagaio*!”

Meu coração fez uma viagem longa à década de oitenta e diante daquela fala me dispus prontamente:

“ Deixa Marta eu vou com ele!”

Era impossível não ceder àquela frase:” Vou soltar papagaio!” Vinda, apenas de um menino de cinco anos! Como pode não passar pela cabeça de um pequeno que um carro pode matá-lo, que alguém pode roubá-lo, que ele pode tomar um choque com a linha nesses postes encrenqueiros da cidade?
Quem ia querer pensar em morte, medo, traumas diante de um possível vento, diante de um papel, recortado de forma geométrica, com um rabo, seguro por uma linha subindo aos céus? Só mesmo minha cabeça adulta ia fazer essa digressão disciplinada!
E lá nos fomos, mas era outra época, não era julho, nem agosto e não havia vento! Meu desejo se misturou ao de Gabriel e nem lembrei de avisá-lo que, sem vento, nada iria ao céu...talvez um avião...mas um papagaio não!
As pessoas cumprimentavam Gabriel: ”Oi!” Ele respondia olhando para o céu. Outros:” Onde você vai com esse papagaio menino?”
A nossa vontade era tanta que, só no momento em que eu segurava para que ele empinasse me lembrei:” Não vai subir! Não tem vento, não é a época!” Mas eu não disse nada, deixei que ele tentasse empinar, que corresse, que se desdobrasse...seria maldade minha? Creio que não! E lá se foi Gabriel! O papagaio soltou das minhas mãos e voou um pouco logo indo ao chão.
Ele me olhou um pouco decepcionado, estávamos longe, fui até ele e disse:” Não tem vento, não é a época ainda...”

Ele me olhou com olhos de quem sabe que a época vai chegar e disse:” Ah! Mas deixa chegar a época!”


Quase como um desafio, como uma esperança, e como alguém que, quando chegar a época estará preparado!




* em outros lugares do Brasil se diz pipa, e para achar no google a imagem só com "pipa",agora em Minas Gerais é papagaio!!







2 comentários:

  1. Já soltei muito papagaio. Nós, a meninada da Rua, buscamos bambu no mato para fazer a caras. Aaah, e tinha o gripe para colar... já soltei muito sonho...

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  2. Já soltei muito papagaio. Nós, a meninada da Rua, buscamos bambu no mato para fazer a caras. Aaah, e tinha o gripe para colar... já soltei muito sonho...

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