sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Esse poema é pra toda mulher presa




Esse poema não sabe nada de teoria poética
Nem de métrica
Nem de simetria
Esse poema sangra todo mês por natureza(?)
A mulher que sangra sem poder absorver 
a mulher que não tem nada de higiênico para absorver o sangue da vida
a mulher presa em todo cárcere
a mulher transexual presa
e aquela presa nos familiares
Ele chora todo mês ou semana de visita

Esse poema é pra mãe negra que chora o filho morto
Ou a esposa que sangra na alma o marido preso
Esse poema não conhece a vida doce das madames
Nem se interessa com seus vinhos, seus vexames
Ele sabe em que lugar, de classe, está colocado

Esse poema não é decassílabo
E nem tem rima rica
De rico aqui só nosso ódio
Só o que sobra do vestígio
Daquilo que te faz besta fera
Que te coloca de nádegas abertas
Nas filas de visita
No sol, na chuva ou na brisa

Esse poema faz planos
Faz comida nova no domingo
Coloca na marmita
Assa bolo e faz de tudo que é possível!
Para lá, dentro da cadeia
Na portaria,
Retirarem pedaço por pedaço,
Procurando chip.
Procurando um clips.
Tentando criminalizar aquela família

Esse poema é também, quem sabe, pra mulher presa em abusos
De homens e de mulheres!

Esse poema é pela não prisão de ideias!!!!

Esse poema não acredita em nada que venha de uma grade
Só é possível em liberdade
Esse poema não tem rima, nem tem medo.





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