É de admirar que em
pleno dia das mães saia uma reflexão como essa e um título tão forte, ou tão
cortante! Afinal, à primeira vista, ser mãe parece tão natural como comer,
dormir, trabalhar. Bom, acho que não é! Talvez a excessiva obrigação
capitalista de se realizar na maternidade obrigue as mulheres a se envergonharem
de colocar publicamente o não desejo de ser mãe*. Já ouvi pessoas me dizerem:”
Como não? Que absurdo! Toda mulher quer ser mãe! Isso é egoísmo seu!” Nessa
hora lembro do meu irmão que fala pouco e fala o essencial, quando questionado
sobre o jeito dele e sobre que desse jeito ele não amava, ele responde:” é por
amor que eu faço tudo o que faço!” E aqui eu não me refiro à paternidade, ou se
ele quer ou não ser, isso é da alçada dele, mas me refiro à reflexão sobre o
amor e sobre o tudo que ele faz que se parece muito com o meu tudo.
Assim, a reflexão passa
por esse amor aclamado nas propagandas, aclamado aos quatro cantos, como se
amar fosse comprar coisas e não fazer uma ligação no meio do dia, no meio da
rua e dizer:” Oi mãe! Como você está?” E ouvir dela coisas engraçadas,
lamentações, dores e poder construir caminhos ali pelo telefone...
O amor foi aprisionado
pelo medo, ouvi essa frase de Gerivaldo Neiva num seminário em BH, refleti
muito sobre. Ou o medo é a moda nessa triste temporada de Zeca Baleiro. Esse
medo todo de não poder ser algo diferente do que todo mundo é.
E voltando ao ser ou não
ser mãe é necessário passar pelo fato de, o sendo sem querer, por acidente,
tentar deixar de sê-lo**. Sim, deixar de ser mãe quando se torna sem querer. E
aqui a forte presença desse amor capitalista é impressionante! Chego a me
lembrar de um pastor famoso num canal aberto de TV dizendo sobre isso e
achando-se no direito de definir o que as mulheres devem ou não fazer com
argumentos de amor...mais impressionante foi a entrevistadora titubear diante
das fajutas argumentações.
Não é esse amor que me move,
não é esse amor que faz com que milhões de mulheres morram em clínicas clandestinas,
esse amor que obriga milhões de mulheres a se violentarem, ou a serem
violentadas. O amor que mostra caminhos a essa realidade não é aquele que acha
que se devam matar os filhos do submundo***, não! É o amor que quer construir um
espaço onde elas possam dizer sobre o que querem e se quiserem ter o direito de
dizer não, e claro, quando se pode dizer do que se quer, pode-se mudar de ideia
não é? Pode-se construir caminhos e talvez tornar-se com a ajuda de outros e
com os direitos garantidos uma mãe, por quê não? Mas é preciso garantir esses
direitos historicamente violados!
É por amor ao mundo que muita
gente não quer ser mãe e nem pai! Há caminhos diferentes para cada um, e
existem pessoas que não cabem mesmo nesse mundo! Existem pessoas que lutam para
que não existam pessoas como elas no mundo. Como os zapatistas que dizem:
“somos soldados que querem que os soldados não mais existam”. É preciso
enxergar possibilidades, é preciso ultrapassar o corriqueiro, calar o excesso e
descobrir o essencial.
Pelo direito de ser alguma
coisa e não ser o que o outro definiu ser...
**Não me intitulo feminista, tenho respeito e acho
extremamente necessário o movimento, mas minha fala não está inscrita nele,
pois não tenho argumentos suficientes para fazer alusão à esta realidade.
***o que a freira superiora do
convento em que estive na juventude dizia contra o não ser mãe ou deixar de
sê-lo
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