domingo, 16 de junho de 2013

Sobre mudar o mundo

Para quem ainda insiste em não acreditar que o mundo pode mudar é necessário relembrar algumas coisas. O Brasil passou por um período ditatorial que marcou profundamente todo mundo, apesar de muita gente achar que aquele era que era um bom tempo. E, apesar de eu achar que nem aquele era e nem esse é o melhor tempo...

Há muito o que se dizer sobre a manifestação realizada em BH, assim como em outros Estados e cidades. Mas gostaria de me ater à discussões locais, afinal falar do outro lado das fronteiras só atravessando-as, e esse não é o meu caso, não estive lá, não sei exatamente o que aconteceu. Bom, nem mesmo em BH sei exatamente o que sucedeu. A Copa chegou e alvoroçou esses meninos? O transporte é ruim assim mesmo? Esses chamados via facebook e essas conversas-denúncias* via celular não fazem sentido?

Para quem está acostumado a olhar o mundo apenas por uma tela de computador talvez essas perguntas acima soem à ironia ou leviandade. Pode ser...vamos ao debate e também(!) às ruas. Claro que é necessário ser respeitoso com as limitações de saúde, de trabalho e outras mais de cada um. Ao me encaminhar para a manifestação, já atrasada, pois eu estava antes com quem(s) me deu o presente de viver, vi um dos militantes-usuários da saúde mental com sua namorada num bar em BH, no bairro aqui pertinho de casa onde ele e eu moramos e disse:" Olha só a galera tá na rua! Apareça lá!" Ele sorri, me abraça e se senta novamente, eu sei que provavelmente ele não irá, mas sei também que o mesmo não se ausenta de nenhum espaço onde se trava as lutas pelos direitos humanos dos portadores de sofrimento mental e assim ele também milita por mim, ou por você que temos sim probabilidade de um dia estarmos na mesma situação em que ele está. Dessa forma me encaminho no debate. Podemos nos ausentar e ainda assim estarmos lá. Confiantes de que mesmo não sendo o nosso(meu não eu não tenho um e nem quero ter! agradecida.) partido quem organizou, mesmo que não formos nós quem tem o megafone, e nem que puxamos o evento virtualmente mas acreditamos que é preciso colocar o corpo junto de todo espaço de luta mesmo que contraditório! Não seria eu injusta comigo mesmo e com todo mundo se não tivesse claro a contradição humana e a certeza que é preciso ir e tentar ouvir o que será dito e estar onde está sendo feito.
           E por isso eu vou, porque é impossível mudar o mundo sem se arriscar. Se a gente concorda mesmo e se indigna com a realidade é só saindo da inércia. Eu disse ao caminhar(fui sozinha, não estava em grupo, rodava com euforia no meio daquela multidão e pensava:"estou viva para ver isso acontecer!") para algumas pessoas:"mais criativos que os que puxam os gritos só os meninos em privação de liberdade!" As pessoas sorriam, respondiam, surgia um papo e logo depois eu seguia para outro canto. Não importava se não era exatamente como eu quero, era importante que acontecesse! Dois gritos me assustaram e não os pude reproduzir:" Ei FIFA vai tomar no cu" encontro um amigo gay e conversamos sobre esse e sobre outro grito:" para de gozar e vem pra rua protestar!" Não era nada agradável ouvir esses gritos, um porque ofende sim na minha opinião uma orientação sexual, o outro porque não condiz com a realidade de quem era alvo dele, as prostitutas da rua guaicurus, as mulheres que trabalham e eu tenho quase certeza, na mesma condição de mulher, que elas não chegam à nenhum gozo nesse ofício. Embora possa ser absurdo e discordar eu continuei, a vibração ainda era forte e continuou até que meu corpo sinalizou que era hora de finalizar.
                  Eles continuaram, eles ocuparam a Praça Sete de setembro, caminharam por quase todo centro da cidade, os protestos e gritos eram sim relevantes, mesmo que a Praça da Estação não tenha sido invadida, mesmo que não tenha havido um confronto direto com a polícia, mesmo que não houve uma ação organizada para mostrar aos que não lá estiveram que aquilo era mais que um monte de jovens nas ruas por nada. Não saem oito mil pessoas nas ruas de uma capital num país num sábado por nada! A cidade referência mundial dos butecos teve número expressivo de pessoas fora deles por pelo menos seis horas num sábado à tarde, num dia de jogo de uma copa que prepara para outra copa, isso é de se levar em consideração. Se não fui eu quem puxou o movimento, não importa, o que importa é fazer coro, estando a favor da maioria dos gritos e me abstendo de alguns deles. Porque para defender a rua, a cidade, a vida e o mundo para quem já estava nele antes e foi e está sendo despojado eu saio sim da inércia!

Faço coro ao grito:" Não é Turquia, não é a Grécia, é o Brasil saindo da inércia!"

Nós os marginais não temos nada a perder a não ser nossa privação de ser!

*sobre denúncias recorrentes via celular de abusos de policias, e outros agentes do Estado contra moradores de rua e adolescentes.

- foto da capa do facebook de Paloma Parentoni.

                                                           











Nenhum comentário:

Postar um comentário